Andrisson Ferreira da Silva e Nedy Bianca Medeiros de Albuquerque

 

LIVES PARA A HISTÓRIA: UM CYBERESPAÇO, NOVOS REFERENCIAIS DE PESQUISA

 

O ano de 2020 não trouxe consigo somente uma pandemia, mas novos aprendizados, caminhos e perspectivas. Circunstâncias impostas sobretudo para educadores que tinham como ambiente de trabalho a sala de aula e estudantado (em todos os segmentos educacionais). Em contextos anteriores à crise sanitária eram priorizadas as rodas de conversas, os trabalhos dialogados, o ensino presencial.

 

O descobrimento do “novo” foi um desafio aos educadores, alunos, pesquisadores, pais e espaços de atuação, mormente aos segmentos da educação pública. Ademais, apesar dos movimentos e protestos em oposição ao uso da virtualização e do ensino a distância, a imposição do remoto frente ao cenário crítico de crise mundial se tornou visivelmente a única alternativa para o momento. Especialmente enquanto os números de mortes no Brasil se tornavam crescentes, desde o primeiro caso confirmado em fevereiro de 2020, mostrando o grande poder de disseminação do vírus causador da enfermidade Covid-19.

 

Em escala progressiva, as diversas áreas da sociedade tiveram de se readequar constituindo o que se chamou de “novo normal”. O universo acadêmico que devido a Educação a Distância (EAD) já flertava com o aulas on-line, tarefas assíncronas e materiais digitalizados, teve ampliação dos usos de ferramentas e ambientes virtuais. O emprego dessas equipagens assumiu uma nova perspectiva devido ao aspecto do emergencial e temporário, sob a denominação de “remota”. De tal maneira se configurando um hibridismo de legislação educacional, reunindo traços do presencial e a distância debaixo dessa nova nomenclatura de Ensino Remoto.

 

No amplo espectro observamos que aquilo anteriormente tangente ao ensino presencial recebeu infiltração do virtual, desde às defesas de dissertações e teses, a eventos científicos do âmbito da extensão, realização de pesquisas e ações de ensino. Embora algumas atividades já acontecessem pela internet, mas para o cenário, em níveis gerais de ações universitárias, esta tornou-se uma saída quase exclusiva ao desenvolvimento das demandas fundamentais de ensino, pesquisa e extensão.

 

Nesse imbróglio, os limites impostos pela Covid-19 às sociedades do globo terrestre não originaram um escape alternativo simples e consensual. As comunidades precisaram discutir sobre as novas possibilidades de se manter o contato sem a presença física mútua – o resultante escape foi a virtualização das relações sociais e utilização de ferramentas antes pouco conhecidas, ou utilizadas pelos profissionais da educação e seus alcançados.

 

Mediante aos novos desafios, ao “Fique em casa”, ao isolamento social, se viu, como nunca antes, os massivos intentos de virtualização dos métodos pedagógicos, das reinvenções didáticas e adaptações de formas avaliativas. Percebemos a necessidade de manter o legado da universidade pública e seu acesso à comunidade interna e externa a ela, na divulgação do conhecimento produzido – as ferramentas tecnológicas se tornaram recursos didáticos significativos.

 

Contudo, mesmo nas universidades, ainda eram poucos os que sabiam sobre as salas de aulas virtuais e o conhecimento de plataformas remotas de ensino eram limitadas na operacionalização e acesso. A internet não era a fundação, mas apenas um dos tantos suportes para pesquisas e envio de trabalhos. Isso mudou. Hoje é o principal recurso para o desenrolar das tarefas que efetivam ensinos não-presenciais emergenciais por todo o mundo e notadamente no Brasil. O cotidiano foi ganhando núperos aspectos, palavras foram sendo inseridas cada vez mais no vocabulário estudantil, tais como “assíncronas”, “síncronas”, “delay”, “bug” “lives” etc.

 

Face ao cenário ocasionado pela pandemia do coronavírus propusemos neste trabalho, historiar as reinvenções, adaptações, descobertas didáticas e metodológicas desenvolvidas pela equipe de docentes e cursistas de Licenciatura e Bacharelado em História da Universidade Federal do Acre (Ufac), que durante o ano de 2020 trabalharam no fomento de lives como aulas públicas inseridas nas metas do Planejamento Anual de Atividades das coordenações daquelas graduações em consonância ao  Plano de Desenvolvimento Institucional vigente, acrescidas da experiência formativa dentro do periódico discente Das Amazônias. Concomitantemente propiciando a efetivação de novos referenciais de pesquisas, chegando tanto à comunidade interna, quanto externa, propagando os diálogos e reflexões acerca dos diversos temas estudados e desenvolvidos pelo corpo da área de História do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) correlatos aos debates a respeito da Pesquisa em História e Ensino de História.

 

Intensificando métodos de produzir ciência: Das Amazônias – Lives em Ação

Em abril de 2020, enquanto a Ufac buscava discutir as possibilidades de implantação e implementação de um Ensino Remoto Emergencial (ERE), alguns proponentes inquietos, professores e alunos dos cursos de História, visualizaram caminhos de interação ante ao isolamento social. Então, com a Revista “Das Amazônias” – periódico discente de história da Ufac, se discutiu a proposta de difusão do conhecimento por meio de lives. A priori, um “mundo às cegas”, sem muito conhecimento didático e tecnológico, pois as utilizações destes recursos eram muito limitadas ou aconteciam em situações esporádicas.

 

Desse modo, foram sendo organizadas as atividades e pensadas as plataformas de transmissão. Nesse primeiro momento de experiências, a escolhida foi o Instagram via perfil da própria revista “@dasamazonias”, até então, em nenhuma ocasião manipulada em transmissões ao vivo, funcionando somente para informes sobre o curso e revista, afora as chamadas à publicação. Era preciso não temer a “novidade”. A incerteza de um retorno breve aos encontros presenciais, às rodas de conversas, aos simpósios, debates acalorados eram cada vez mais distantes e angustiantes, nos impelindo a pensar em formas de contornar esses limitantes. Tudo isso foi sendo transmutado para o virtual. Mas, nos idos de abril, não se cogitava num confinamento prolongado ao decorrer de horas, dias, semanas...Mais de um ano!

 

Posto isso, a partir de linhas de pesquisas e discussões já desenvolvidas pelos professores da área se efetivou o convite para lecionarem as aulas públicas em um formato pouco experienciado. Foram convidados para “inaugurarem” um “hodierno” momento e à aproximação entre alunos, egressos, simpatizantes da História e seus conteúdos interdisciplinares. Uma vivência na busca da defesa de disseminação do conhecimento e ciências humanas, mesmo levando em consideração a utilização da internet como uma ferramenta não acessível a muitos no Brasil.

 

Nesse ínterim, com o agendamento das apresentações e respectivas monitorias, produziu-se cards de divulgação das lives, suas datas e seus horários. A primeira, intitulada “Crise política e sanitária no Brasil: conflitos de poder e pandemia do Coronavírus”, rendeu aprendizados enquanto operadores dos instrumentos técnicos. Eis que a internet revelaria seus impasses às transmissões ao vivo, impossibilitando o desenrolar de nossa atividade, que seria remarcada e efetivada no dia 05 de maio de 2020. E, apesar de superado óbice inicial, deveríamos nos ater a outras especificidades do momento, dificuldades e potencialidade ainda não tão exploradas e por isso mesmo indômitas, fossem em ruídos internos e externos expressos em latidos, miados, barulhos de obras em construções e sons numerosos produzidos no cotidiano, a vida “azafamando” em nosso home office.

 

Seguindo nosso cronograma, a segunda palestra on-line transcorreu no dia 05 de junho e abordou “O surgimento do ambientalismo como questão contemporânea e seus reflexos na sociedade, cultura e economia”. Em 09 de junho a conversa foi sobre “Comunismo: significados e os usos na contemporaneidade”. E, encerrando o cronônimo de lives pelo Instagram, no dia 16 de junho de 2020 apresentamos “Compreendendo o simbolismo de nossa desumanidade a partir dos filmes “O Poço” e “Distrito 9”.

 

Essa proposta de transmissões, via Instagram, foi planejada pela equipe editorias da Revista Das Amazônias como projeto de extensão com certificação dos palestrantes e mediadores, se inserindo em nova metodologia institucional da Ufac, visando atender as demandas da conjuntura do dito “novo normal” e empregando diferentes plataformas virtuais. Em específico, resultando a área de História na demonstração de uma rota alternativa ao diálogo. Ante tal cenário se delineou a propositura de “um circuito de lives”, visando a assistência na apartação, denominado de “Historiando na Live”.

 

Presença na ausência: virtualmente sincronizados – “Historiando na Live”

O projeto “Historiando na Live” foi realizado entre os meses de junho a outubro de 2020, contando com a participação de 23 docentes palestrando, com audiência superior a uma centena de pessoas entre cursistas e comunidade extra acadêmica, congregando diferentes códigos de endereçamento postal, visando apresentar as linhas de pesquisa e trabalhos desenvolvidos pelos professores da área de História. Este plano atendia a demanda compatível com o Projeto Político Curricular (PPC) dos cursos de História da Ufac, observando o desenvolver de competências e habilidades acerca de distintas “concepções metodológicas que referenciam a construção de categoria para a investigação e a análise das relações sócio-históricas” somando-se o “problematizar, nas múltiplas dimensões das experiências dos sujeitos históricos, a constituição de diferentes relações de tempo e espaço” aduzindo-se o “transitar pelas fronteiras entre a História e outras áreas de conhecimento” (UFAC, HISTORIANDO NA LIVE, 2020, n.p.).

 

Nesse sentido, as atividades anteriormente desenvolvidas pelo projeto “Lives em Ação”, da Revista Das Amazônias, demonstraram a adesão positiva pela comunidade, servindo como base das experiências acerca dos parâmetros organizacionais de transmissões ao vivo. Desta forma se tentava levar e debater a história para além das fronteiras do saber até então preconizadas, porquanto isso remetesse ao ensino e a pesquisa pautados nos “regramentos dos Projetos Pedagógicos de Licenciatura e Bacharelado em História”, configuradas em “conteúdos das palestras do curso dentro do conjunto de ementas ministradas em diferentes disciplinas das duas graduações, correlacionando-as com o desenvolvimento de atividades de pesquisa em desenvolvimento ou já conclusas e seus produtos” (idem, n.p.).

 

Assim, se elaborou um clico de lives como uma formação extensionista. Desta vez, a possibilidade de certificação foi estendida desde os palestrantes aos ouvintes de cada aula realizada, mediante a prévia matrícula via Google Forms, perfazendo um montante de 130 inscrições online.

 

Para a certificação e maior participação dos inscritos, buscou-se o conhecimento de algumas plataformas. O que nos levou a descartar a Conferência Web da RNP graças “ao seu peso na rede de internet”, que rendia uma fraca conexão e limitação de participantes. Nos fazendo adotar o Google Meet em lugar do Instagram (como tínhamos feito no projeto “Lives em Ação”).

 

A aplicação do Google Meet nos compeliu a elaborar um roteiro de práticas de convivências aos cursistas, pois era preciso se adequarem às peculiaridades do procedimento: “Algumas dicas para que possamos ter bastante proveito nesse nosso primeiro encontro, por favor, desligue seu microfone. Não ative a câmera. As perguntas serão destinadas para o final da palestra. Utilizem o chat para fazerem as perguntas. A sua presença está sendo verificada pelos monitores, então, não se ausente!”.

 

Na primeira etapa, inseridos no google meet, tivemos como temáticas “A ascensão do fascismo no século XXI na esteira da crise da Democracia liberal e do neoliberalismo”; “Epidemias e mudanças: é possível aprender algo com a História?”, “Identidade(s) e território(s) em movimento: Floresta Nacional do Macauã”; “Santos do povo: um olhar sobre a América Latina”; “Historiografia pós-moderna: oposições”, “O diálogo entre História e Imprensa: fontes e objetos”; “Estudos migratórios e a história oral: sujeitos, trajetórias e perspectivas da construção do conhecimento na história contemporânea”; “Escrevivências”: relações entre lugar de fala e criação epistemológica”; “História e cultura africana e afro-brasileira como forma de descolonizar o currículo de História”.

 

Entrementes, após o primeiro mês de realização, migramos para aulas síncronas no YouTube por meio da plataforma de transmissão StreamYard. A mudança se justificou porque os participantes solicitavam acesso a palestra gravadas, situação inviabilizada por conta da modalidade gratuita de Google Meet empregada. Outro receio ao corpo organizacional eram as possíveis intromissões hackers que propalavam pornografias (invasões crescentes em espaços acadêmicos virtuais ocorridas, inclusive, em eventos da própria Ufac).

 

Porém, antes da migração, os monitores buscaram instruções em tutorias, identificando um programa gratuito para gravação das aulas, o OBS Studio. Todavia, para a instalação deste, era necessária grande quantidade de armazenamentos nos computadores dos monitores, situação restritiva frente ao quantitativo de lives a serem gravadas, considerando a sobrecarga da Memória Ram que impediria o bom funcionamento dos equipamentos.

 

Pacificando o problema, em julho de 2020 adotamos o YouTube por meio do StreamYard. A plataforma beneficiava a ação pois não havia limitação de participantes, somando-se ao diálogo assegurado por meio do chat e armazenamento automático de gravação no canal do YouTube “Circuito Lives”. Neste segundo momento, armazenamos as lives “Protagonismo indígena na História do Acre”, "Caminhos de pesquisas sobre gênero e meio ambiente"; “Anexação do Acre ao Brasil: revisão historiográfica”; “A encruzilhada do rock: politização e "indústria cultural" no panorama dos anos 1960”; “Diálogos sobre doenças, saberes médicos e outras artes de curar nas Amazônias”; “Movimentos migratórios: memórias dos imigrantes sírios e libaneses no vale do Acre e Juruá - 1900 a 1975”; “Os escudos dos extrativistas: os corpos, a Igreja Católica (Teologia da Libertação), os partidos clandestinos, os sindicatos e as ONGs”; “Amazônia Acreana: um breve panorama da história do ensino rural no Acre do início do XX aos dias atuais”; “Religião e religiosidades nas InterAmazônias”; “Mundos indígenas e fronteiras nacionais na Amazônia Sul Ocidental; “Viver não é preciso, narrar é preciso: o cinema aprendendo a contar histórias” e “Distribuição dos sítios arqueológicos no estado do Acre: muito além das formas geométricas”. Dentre este acervo, destacamos “40 anos de história: caminhos e descaminhos do curso de história da Ufac” proferida como última palestra do Prof. Dr. Carlos Alberto Alves de Souza, um dos fundadores do curso de História da Ufac e ex-presidente da Associação Brasileira de História Oral (ABHO), que fortaleceu nossa compreensão das lives para além da perspectiva de veículos difusores de conhecimento, mas, igualmente como fontes e objetos de pesquisa.

 

Lives como novos referenciais de pesquisa em História

Face aos destaques pontuados até aqui, vale para aludirmos as lives enquanto mananciais e motivador da pesquisa, nos reportarmos a autora Circe Bittencourt no prelo de sua produção “Ensino de História: Fundamentos e Métodos”, a fim de refletirmos sobre os atuais métodos de ensino, sem perder de vista que estes devem estar articulados com as novas tecnologias, não obstante os problemas entorno destas e do ensino. Nesse sentido, os computadores revolucionaram e continuam a revolucionar as formas de “conhecimento escolar” (BITTENCOURT, 2004), tendo efeito análogo sob o conhecimento acadêmico.

 

Levando em consideração a análise da historiadora, podemos, apesar dos obstáculos, seguir com um conhecimento científico disseminado que seja primordial aos alunos e alunas, sem tornar-se suporte para prejuízos pedagógicos e didáticos no Ensino de História e nos processos formativos dos sujeitos abarcados pelos trâmites educacionais. Assim, não podemos descartar, as tecnologias como grandes ferramentas na difusão científica, e isto inclui amplamente o conhecimento das Ciências Humanas no cyberespaço em meio à crise da Covid-19. Soares e Colares (2020) são pertinentes quando enfatizaram que as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC’s) podem ser compreendidas

 

“Como um instrumento a serviço da formação humana e da produção e expansão do conhecimento, contribuindo no amplo alcance de sujeitos educacionais, possibilitando ainda a melhoria de tarefas e processos desempenhados nas escolas e/ou instituições de ensino superior” (SOARES E COLARES, 2020, p. 21)

 

As lives são assim inseridas no universo de novas fontes de pesquisas, se fundem com a pós-modernidade e suas virtualizações, contemplando a diversidade do Ensino de História. Os registros digitais saem de meros compilados e se tornam documentos históricos, sem obliterarmos dos ensinamentos de Le Goff ao enfatizar que:

 

“Devemos repudiar qualquer forma imperialista de historicismo – quer se apresente como idealista, quer como materialista ou possa ser considerada como tal –, mas reivindicar com força a necessidade da presença do saber histórico em toda a ação científica” (LE GOFF, 2013, p.139).

 

É nessa ação científica e nessa concepção histórica de ensino, onde o físico sucumbe a virtualização, que podemos nos ater, de maneira necessária, ao elucidado pelo historiador Eric Hobsbawm quando nos advertiu:

 

Os historiadores, cujo ofício é lembrar o que os outros esquecem, tornam-se mais importantes que nunca [...]. Por esse mesmo motivo, porém, eles têm de ser mais que simples cronistas, memorialistas e compiladores” (HOBSBAWM, 1995, p. 13).

 

Historiadores precisaram se reinventar! Os historiadores, seguindo a lógica da contemporaneidade, estão e são desafiados frente aos reptos, mas em sua prática pedagógica, apesar de árdua responsabilidade, não podem olvidar-se dos eixos norteadores prezadores de uma história das margens. E foi citando Déa Fenelon que o professor Carlos Alberto Alves de Souza imortalizou em sua live “40 anos de história: caminhos e descaminhos do curso de história da Ufac”: - “Historiador tem que ousar”! (CIRCUITO LIVES, 2020). O professor faleceu meses depois de sua aula pública, no entanto, a apresentação ficou como registro de suas concepções históricas e de memórias, nos trajetos do curso de história da Ufac, nos seus caminhos de vida e fazeres pedagógicos, enfatizando: “a documentação por si só não é movimento da história” (idem). Nós somos os agentes capazes de movimentá-la. E as lives são um contemporâneo modelo de documentação, que ganharão nupérrimas perspectivas frente aos tenros pesquisadores.

 

 

Apontamentos reflexivos – o desafio continua

Historiadores são agentes da história e corroboram para a sua escrita, nuances, subjetividades e registros. Esperamos pelo relato de nossas vivências recentes, termos levantado algumas reflexões frente aos desafios atuais que confrontam os educadores a partir das experiências dadas no período pandêmico. É preciso não sucumbir ao cyberespaço e suas imposições, compreendendo suas implicações, aproveitando seus recursos para aplicação de metodologias e recursos didáticos necessários aos aprendizados dos estudos em História, bem como de suas ramificações.

 

As novas metodologias implicam em registro que se tornam imprescindíveis referenciais. A história aplica-se ao espaço virtual, não obstante os delays, bugs, perdas de conexões, crises. Os confrontos enfrentados pelo ensino de história, da universidade pública e seus pilares - ensino, pesquisa e extensão - corroboram para nos lembrar: as adversidades e embates continuam!

 

Esses novos desafios foram e estão sendo enfrentados em meio a um cenário deplorável, cuja crise sanitária tomou proporções drásticas no Brasil, levando já na metade do ano de 2020 a morte de mais de sessenta mil pessoas, revelando também o desequilíbrio do sistema neoliberal e a decadência política na qual estava e, está ainda, instaurado o país. No entanto, apesar das vicissitudes rotineiras de isolamento social, as lives foram promotoras de conhecimento científico para dentro e fora da comunidade acadêmica. Era inescusável suprir a carência da presença física e prosseguir na defesa da educação para todos, mesmo que no bojo da desigualdade realçada pela pandemia do novo coronavírus.

 

Referências biográficas

Andrisson Ferreira da Silva é acadêmico do curso de Licenciatura em História pela Universidade Federal do Acre (Ufac), integrante do Grupo de Pesquisa “O processo de construção do docente em história”, e do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi/Ufac); atua no projeto “Representações dos povos indígenas do Acre nas plataformas digitais brasileiras” e colaborou nos projetos “Lives em ação” e “HISTORIANDO NA LIVE - ciclo de palestras sobre linhas de pesquisa, temas e trabalhos desenvolvidos pelos professores da área de História do CFCH/UFAC”. Já foi pesquisador de iniciação científica do projeto “Práticas Pedagógicas em Educação das Relações Étnico-Raciais em Escolas de Educação Básica do Estado do Acre, atualmente é residente pedagógico da área de História da Ufac, membro das equipes editorias da Revista Das Amazônias e Revista em Favor da Igualdade Racial.

 

Dra. Nedy Bianca Medeiros de Albuquerque é professora Associada Nível 02, regime de dedicação exclusiva, lotada no Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Acre, associada da ANPUH AC/RO e ABPN. Graduada em História pela Universidade Federal do Acre (1999) e em Direito pela União Educacional do Norte (2008). Mestra em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2002). Doutora em História Social pela USP (2015). Vice-lider do grupo de pesquisa “Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e índigenas (NEABI/Ufac)”, integrante dos grupos de pesquisa “Gênero, Decolonialidade, Culturas Indígenas e Afro-Brasileira” e “O processo de construção do docente em História: possibilidades e desafios da formação inicial e da formação continuada do fazer-se historiador em sala de aula”. Foi professora formadora do PARFOR de História da Ufac e das especializações UNIAFRO: política de promoção da igualdade racial e História e Cultura Africana e Afro-brasileira. É atualmente subcoordenadora do programa de ensino Residência Pedagógica, coordenadora do Curso de Bacharelado em História da Ufac, editora-chefe da Revista Das Amazônias – periódico científico dos discentes da área de História, editora adjunta da Revista em Favor da Igualdade Racial (REFIR/Ufac). Coordenou os projetos “Lives em ação” e “Historiando na live - ciclo de palestras sobre linhas de pesquisa, temas e trabalhos desenvolvidos pelos professores da área de História do CFCH/UFAC”.

 

Referências bibliográficas

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: Fundamentos e Métodos. São Paulo: Cortez, 2004.

 

HOBSBAWM, Eric J. Era dos extremos: o breve século XX: 1914-1991. Tradução: Marcos Santarrita; revisão técnica Maria Célia Paoli. – São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

 

LE GOFF, Jaques. História e Memória. Tradução Bernardo Leitão... [et al.]. – 7ª ed. revista – Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2013.

 

SOARES, L. V.; COLARES, M. L. I. S. Educação e tecnologias em tempos de pandemia no Brasil. Revista Debates em Educação. v. 12, n. 28. p. 19-41 (2020). Disponível em: https://www.seer.ufal.br/index.php/debateseducacao/article/view/10157. Acesso em: 27 de abr. de 2021.

 

UFAC. HISTORIANDO NA LIVE: ciclo de palestras sobre linhas de pesquisa, temas e trabalhos desenvolvidos pelos professores da área de História do CFCH/UFAC, 2020.

 

LIVES DO PROJETO “LIVES EM AÇÃO”

 

COMPREENDENDO o simbolismo de nossa desumanidade a partir dos filmes “O Poço” e “Distrito 9”. Palestrante: Renis Ramos da Silva. Das Amazônias. Instagram. 16 de jun. de 2020. 52min17s. Disponível em: https://www.instagram.com/tv/CBg_LRJC5jd/. Acesso em: 26 de abr. de 2021.

 

COMUNISMO: significados e os usos na contemporaneidade. Palestrante: José Sávio da Costa Maia. Das Amazônias. Instagram. 09 de jun. de 2020. 30min9s. Disponível em: https://www.instagram.com/tv/CBN6Cp9Bn-0/. Acesso em: 26 de abr. de 2021.

 

O SURGIMENTO do ambientalismo como questão contemporânea e seus reflexos na sociedade, cultura e economia. Das Amazônias. Palestrante: Wlisses James Farias da Silva. Instagram. 05 de jun. de 2020. 47min46s. Disponível em: https://www.instagram.com/tv/CBDq9IKBRoU/. Acesso em: 26 de abr. de 2021.

 

LIVES DO PROJETO “HISTORIANDO NA LIVE”

 

40 ANOS de história: caminhos e descaminhos do curso de história da Ufac. Circuito Lives. Palestrante: Carlos Alberto Alves de Souza. YouTube. 29 de jul. de 2020. 1h25min58s. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=7-TJMDHG9gA&t=4098s. Acesso em 26 de abr. de 2021.

 

A ENCRUZILHADA do rock: politização e “indústria cultural” no panorama dos anos 60. Palestrante: Wlisses James de Farias Silva. Circuito Lives. YouTube. 26 de ago. de 2020. 1h39min. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8PZmVP-r4vQ&t=5251s. Acesso em 26 de abr. de 2021.

 

AMAZÔNIA Acreana: um breve panorama da história do ensino rural no Acre do início do XX aos dias atuais. Palestrante: Euzébio de Oliveira Monte. Circuito Lives. YouTube. 23 de set. de 2020. 1h43min18s. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=oipOsKy_Gko. Acesso em 26 de abr. de 2021.

 

ANEXAÇÃO do Acre ao Brasil: revisão historiográfica. Palestrante: Eduardo de Araújo Carneiro. Circuito Lives. YouTube. 19 de ago. de 2020. 2h20min16s. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Xld7-VM2AW8&t=10s. Acesso em 26 de abr. de 2021.

 

CAMINHOS de pesquisa sobre gênero e meio ambiente. Palestrante: Teresa Almeida Cruz. Circuito Lives. YouTube. 12 de ago. de 2020. 1h29min18s. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wSfuLmDcbgk&t=178s. Acesso em 26 de abr. de 2021.

 

DIÁLOGOS sobre doenças, saberes médicos e outras doenças na arte de curar nas Amazônias. Palestrante: Sérgio Roberto Gomes de Souza. Circuito Lives. YouTube. 2 de set. de 2020. 1h41min41s. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=xErrdOjbZSw&t=91s. Acesso em 26 de abr. de 2021.

 

DISTRIBUIÇÃO dos sítios arqueológicos no estado do Acre: muito além das formas geométricas. Palestrante: Fernando Ferreira. Circuito Lives. YouTube. 21 de out. de 2020. 1h46min40s. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=UufTUBspN5k. Acesso em 26 de abr. de 2021.

 

MOVIMENTOS migratórios: memórias dos imigrantes sírios e libaneses no vale do Acre e Juruá - 1900 a 1975. Palestrante: Valmir de Freitas Araújo. Circuito Lives. YouTube. 9 de set. de 2020. 1h35min58s. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6dXtpSmzMIs. Acesso em 26 de abr. de 2021.

 

MUNDOS indígenas e fronteiras nacionais na Amazônia Sul Ocidental. Palestrante: Maria Ariadina Cidade Almeida. Circuito Lives. YouTube. 7 de out. de 2020. 1h44min42s. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8pkpxroxv9k. Acesso em 26 de abr. de 2021.

 

OS ESCUDOS dos extrativistas: os corpos, a Igreja Católica (Teologia da Libertação), os partidos clandestinos, os sindicatos e as ONGs”. Palestrante: José Sávio da Costa Maia. Circuito Lives. YouTube. 16 de set. de 2020. 1h41min18s. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cT3uJowYpSY. Acesso em 26 de abr. de 2021.

 

PROTAGONISMO Indígena na história do Acre. Palestrante: Airton Chaves da Rocha. Circuito Lives. YouTube. 05 de ago. de 2020. 1h47min10s. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8-5aXGavv3Q&t=2618s. Acesso em 26 de abr. de 2021.

 

RELIGIÃO e religiosidades nas InterAmazônias. Palestrante: Geórgia Pereira de Lima. Circuito Lives. YouTube. 30 de set. de 2020. 1h52min56s. Disponível em: https://youtu.be/vgnjhGCF648. Acesso em 26 de abr. de 2021.

 

VIVER não é preciso, narrar é preciso: o cinema aprendendo a contar histórias. Palestrante: Hélio Moreira da Costa Júnior. Circuito Lives. YouTube. 14 de out. de 2020. 1h45min50s. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=rM8k8wMpMUE. Acesso em 26 de abr. de 2021.

9 comentários:

  1. Olá Profa, Nedy e Andrisson, muito interessante o texto de vocês, que certamente não se encerra numa relato de experiência. Aliás, é desafiador em alguma medida analisar a experiência recente ou o história do tempo presente. Meus sentimentos pelo falecimento do Prof. Carlos Souza. Não o conheci, mas vou assistir a live. E já que mencionei live, penso nesse sentido que se tornaram fontes históricas, cujo método se baseia, entre outras coisas, na história oral. As lives podem ser transcritas. Acho que escrevi muito, embora tenho mais a dizer, então pergunto: vocês pensam o cyberespaço (mídias sociais como um todo) apenas como um espaço de divulgação científica? Grato pelas reflexões! Assino, Luiz Gustavo Martins da Silva

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  2. Prezado Luiz Gustavo, ficamos muito felizes com sua leitura. Realmente é um desafio retomar acontecimentos não tão longínquos a fim de tecermos uma história coerente. Levando em consideração seu exposto muito pertinente, seguramente, a história oral é um dos vetores dentro das lives que corrobora para novas fontes de pesquisa, levando em consideração a nova aparelhagem tecnológica, o fluxo de telespectadores, e as adversidades para produção do material, que influi na oralidade dos entravistados/as. Quanto a sua pergunta, vemos o cyberespaço e seu grande potencial de divulgação de conhecimento, sobretudo científico e da área de história. Mas levando em consideração o conceito científico, que perpassa os métodos, as pesquisas, as análises, compreendemos que o mundo virtual não é somente uma redoma de pesquisadores, nele temos inúmeras outras formas de ocupação, podemos citar o entretenimento em suas diversas áreas. Porém, apesar de não ser de todo científico, os comportamentos nas diversas esferas do cyberespaço podem ser objeto científico de estudo, uma vez que possibilitam estudos diversos quanto às interações sociais.

    Agradecemos seu questionamento e suas condolências. Um forte abraço!
    Por: Andrisson Ferreira da Silva e Nedy Bianca Medeiros de Albuquerque

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  3. Olá Professores Andrisson e Nedy, grato pela resposta e esclarecimento. Certamente, estou de acordo com vocês e Andrisson você mencionou um termo que corroboro "ocupação". Acho que vai além da divulgação científica, é de alguma maneira ocupação desse espaço popular e privado - já que é de uma empresa -, ainda é um espaço de construção do conhecimento, inclusive histórico, construção de autonomia, é um posicionar-se como profissional, cuja profissão foi recentemente regulamentada - e isso é importante, concorda. Há possibilidades mesmo, adaptando a linguagem às plataformas. Bem, gostei mesmo do texto de vocês e sei que terão bons resultados! Grande abraço. Assino, Luiz Gustavo Martins da Silva (PPGHIS-UFOP)

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  4. Parabéns pelo texto de excelência professores Andrisson e Nedy. O cyberespaço traz realmente novos horizontes e perpectivas para o Ensino não só do campo Histórico como holísticamente em todos ramos da nossa sociedade, se tornando verdadeiramente a Era do Algoritmo. O que o Históriador Yoval Noah Harari chama de Dadoismo.

    Nesse aspecto segundo suas opiniões, vocês não acham que hoje por essa facilidade em muitos casos de digitalizar tudo e todos não está surgindo uma pseudohistoria em muitas plataformas digitais?

    Pois o Mercado do Like faz com que os conteúdos que são tratados busquem em muitos casos contar uma história politizada e extritamente Eugênica em muitos casos.

    Como diferenciar e ensinar o que é realmente história de estória, para os neófitos que estão começando?

    Abraços virtuais.

    Cordialmente: José Fábio Bentes Valente

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    1. Andrisson Ferreira da Silva28 de maio de 2021 às 21:28

      Prezado José Fábio, rico questionemento! Seguramente, a flexibilidade de propagação do conhecimento no mundo virtual tem seus aspectos negativos, uma vez que muitos conteúdos podem optar por viéses meramente de entretenimento e sem compromisso com a História como ciência. Nesse sentido verdadeiros desconhecimentos. Precisamos combater as ramificações positivistas no bojo da virtualidade, a história única e elitista é um perigo para estimular a ignorância e desprezo dos conhecimentos das margens. Ademais, indo em tua questão, que não deixa de ser complexa e daria horas de uma "conversação", acredito que a incumbência é grande principalmente aos professores de história, que não podem se abster desta era digital e mostrar caminhos possíveis de combate aos pseudocientificismos para os alunos que, hoje, são/estão extremamente conectados. O caminho são as práticas pedagógicas antipositivistas e contra as pseudociências. Devemos letrar digitalmente, no campo da História, os internautas desse vasto cyberespaço.

      Por:Andrisson Ferreira da Silva e Nedy Bianca Medeiros de Albuquerque

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  5. Excelente reflexão. Questionamento. Quanto a catalogação das fontes e/ou registros destas fontes, apresentadas nas lives, quanto a parte metodológica, como seria realizado esses registro? Ainda que as lives possam ser temporárias. Grato. Felipe Araujo Machado

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    1. Andrisson Ferreira da Silva28 de maio de 2021 às 22:18

      Felipe, gratos por sua resposta. Acredito que a catalogação vai depender do local em que está alocada a live e do intuito da pesquisa. Com lives temporárias isso fica bem mais difícil, por isso indicado é a gravação e armazenamento em alguma base de dados. No demais, seguimos na utilização da ABNT.

      Abraços!

      Por: Andrisson Ferreira da Silva e Nedy Bianca Medeiros de Albuquerque

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  6. Olá, obrigado pelo texto!
    Considerando tudo o que foi levantado. "Ouso" perguntar se as TIC's,além de estarem exercendo influências sob uma historiografia pós-moderna,estariam abrindo as portas a um novo fazer historiografico. Visto que a historiografia deve estar sempre em processo de revisão.

    Natanael felipe Oliveira soares.

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  7. Andrisson Ferreira da Silva28 de maio de 2021 às 22:24

    Seguramente, Natanael. A História sempre se renova em suas metodologias. A exemplo disso, podemos citar quando a História Oral surgiu nos anos 70-80 e foi-se solidificando com a utilização de um novo aparelho, o gravador. O avançar tecnológico propicia novas escritas e novas abordagens no fazer historiográfico, e as lives podem ser esses novos referencias de pesquisa mediante a virtualização das relações sociais.

    Abraços!
    Por: Andrisson Ferreira da Silva e Nedy Bianca Medeiros de Albuquerque.

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