Antonio Carlos Figueiredo Costa

 

O CINEMA COMO RECURSO AO ENSINO DA HISTÓRIA: ALGUMAS NOTAS INTRODUTÓRIAS À LUZ DA DIDÁTICA DA HISTÓRIA

 

 

Introdução

Há algumas décadas o tema do cinema no aprendizado da História adentrou ao atelier de muitos historiadores, além de se apresentar como uma sedutora estratégia às aulas de História. A intenção do presente trabalho é oferecer alguns recursos tanto teóricos, quanto didático-pedagógicos que permitam a utilização, no ensino de História, das imensas possibilidades ao ambiente escolar contidas nas obras de natureza cinematográfica. Em razão desse objetivo, partiremos de algumas contribuições que vieram a lume pela lavra de historiadores que se debruçaram na seara da ‘Sétima Arte’, com vistas a demarcar o cânon sob o qual iremos assentar nossas próprias observações de caráter teórico-metodológico.

 

Não obstante à tarefa inicial de esboçar esse corpus teórico, nosso interesse é que sejam possibilitados, nos marcos conceituais da teoria da consciência histórica, que o aprendizado histórico promovido por produções historiográficas strictu sensu possam ser articuladas aos efeitos externos que transitam pela sociedade sob a forma de bens culturais, entre os quais elegemos no presente trabalho, o cinema, dado à sua popularidade e comprovado poder de impacto na realidade social.

 

Nesse sentido, passa a ser defendido que as produções cinematográficas, ao serem apropriadas pelo aparelho escolar, e utilizadas como parte do currículo nas escolas, poderão auxiliar a que jovens alunos entendam que o conhecimento histórico se encontra presente das formas mais inusitadas nas suas vidas, o que consequentemente contribui a que também os filmes venham a facilitar as conexões dos operadores hermenêuticos atenção, expectação e memória, reputados conforme se sabe, de extrema necessidade à alteridade e empatia históricas, permitindo que registros fílmicos sejam elencados como agentes promotores da cultura histórica, no que passam a atuar em benefício de uma autorreflexão acerca do passado.

 

História e Cinema, nem ‘precisão histórica’, nem ‘ressurreição do passado’: um breve excurso

História e Cinema desenvolveram, ao longo de todo o século XX, uma relação de proximidade – apesar de nem sempre tão amistosa – que envolveu incompreensões de ambas as partes, e façamos o mea culpa, certos posicionamentos atávicos da legião dos ‘servos’ de Clio. No decorrer dessa secção nosso compromisso será evidenciar, ainda que sem pretensão exaustiva, alguns trabalhos que contribuíram para que contemplemos um certo ‘estado da arte’ que nos situe na perspectiva de alguns avanços a serem propostos, ainda que na forma de um esboço deveras pálido e inconclusivo, mas que indique algumas vias de acesso possíveis à problemática História e Cinema ao ensino da História.

 

Dessa forma, convém elencar algumas obras que pudemos recensear, no que as alinhamos sob duas categorias: 1. Trabalhos seminais voltados a teorizar História e Cinema; e, 2. A produção dos comentaristas. Nossa proposta será apresentar os núcleos componentes do pensamento de cada autor, agregando quando oportuno, a fala dos comentaristas. Convém ainda esclarecer que não tentaremos, face à exiguidade do espaço desse trabalho, solucionar questões referentes a acusações seja da parte de historiadores profissionais, quanto de cineastas, a respeito de pretensas domesticações dos registros fílmicos, sendo o nosso intuito puramente o de mapear aquilo que permita prover intervenções no espaço escolar mediante uma fundamentação de caráter minimamente teoriforme. Na chave dos trabalhos considerados fundadores aos cogitos que articulam a História, enquanto ciência, e a produção cinematográfica, convém destacar o ensaio da lavra de Marc Ferro (1995), bem como os artigos de Pierre Sorlin (1974); Robert Rosenstone (1988) e Hayden White (1988).

 

O texto assinado por Marc Ferro representa uma referência obrigatória aos que desejam teorizar a relação entre a história e o cinema. O autor passa em revista a reação dos intelectuais – entre esses os historiadores – que haviam considerado o cinematógrafo uma máquina de embrutecimento, dissolução, passatempo de iletrados, criaturas miseráveis, enfim, no relato de Marc Ferro, o filme fora recebido pelas elites como uma espécie de ‘atração de feira’.

 

Alguns (trágicos) anos agitados por guerras e revoluções obrigaram, segundo M.Ferro, que o instituto da censura mobilizado pelos governos e o status quo reconhecessem que o cinema fascina e inquieta, e que em decorrência disso, pode desempenhar um efeito de natureza corrosiva e desestruturar o edifício ideológico montado por veneráveis instituições que vieram contribuindo ao longo de incontáveis gerações nos campos da teoria do Estado, da ciência jurídica, e da Educação. Tudo que afinal era sólido, “podia se desmanchar no ar” (K.Marx), pela simples projeção pública de uma película em uma sala escura, pois os registros fílmicos insistiam em revelar bem além daquilo que seus exibidores pretendiam mostrar.

 

A tese de Marc Ferro sobre o uso do cinema para o conhecimento histórico não considera fatores semiológicos, nem incursiona pela estética ou pela história do cinema, e muito menos se propõe a abordar o produto cinematográfico como obra de arte. Assim, o registro cinematográfico se apresenta como uma imagem-objeto, cujas significações não são somente cinematográficas, mas que valem por aquilo que testemunham. Dessa forma, seguimos ao autor:

 

“A crítica não se limita somente ao filme, integra-o no mundo que o rodeia e com o qual se comunica necessariamente. Nessas condições, empreender a análise de filmes, de fragmentos de filme, de planos, de temas, levando em conta, segundo a necessidade, o saber e o modo de abordagem das diferentes ciências humanas, não poderia bastar. É necessário aplicar esses métodos a cada substância do filme (imagens, imagens sonoras, imagens não sonorizadas), às relações entre os componentes dessas substâncias; analisar no filme principalmente a narrativa, o cenário, o texto, as relações do filme com o que não é o filme: o autor, a produção, o público, a crítica, o regime. Pode-se assim esperar compreender não somente a obra como também a realidade que representa”. (FERRO, 1995, p. 203).

 

Marc Ferro identifica nos imprevistos do cotidiano aspectos que produzem testemunhos involuntários da realidade, proporcionando aos registros fílmicos uma riqueza muitas vezes não percebida por seus próprios realizadores. Para o autor, essa observação é patente para os chamados ‘filmes de atualidades’, ou ‘cinejornais’, porém não menos verdadeira para os filmes de ficção. Assim, é do aparente e do não visível, das ausências e do não-revelado que o historiador constitui seus materiais de trabalho, os testemunhos obtidos mediante o lapso tantas vezes involuntário do criador ou de uma ideologia.

 

Da lavra de Pierre Sorlin (1974) veio a lume, na prestigiada Revue d’histoire moderne et contemporaine, uma meticulosa análise dos chamados filmes históricos, tendo sido privilegiados aspectos hermenêuticos contidos nas obras cinematográficas. Para Sorlin, enquadramentos, sinais, contrastes, montagens, sons e movimentos ternários de enredo se constituem em objeto de análise, sob a luz da semiótica, e devem ser priorizados, cabendo ao historiador adentrar à “linguagem” que é própria aos filmes. Com efeito, Sorlin percorre as obras que analisa com olhar arguto, talvez menos focado nas reconstruções de época, aprovando tacitamente trajes, cenários e costumem que parecem satisfazê-lo enquanto indicativos ao espectador que se trata de uma outra época. Mas frisa que os filmes históricos devem ser considerados, ainda que tentem reconstruir eventos, como a expressão da realidade possível em uma obra que ele considera afinal, de ficção.

 

Fazendo coro a Kornis (1990), nos inclinamos a concordar que, enquanto Marc Ferro fica muito concentrado na análise contextual do filme, propondo que os registros dessa natureza tratam-se de imagens-objeto, e interessando-se inclusive por fatores como produção e distribuição dos filmes, Pierre Sorlin parte em uma direção oposta, renunciando a abordar tais questões, chamando mesmo atenção, conforme observou Miskell (2011) a que os historiadores não se detenham tanto nos erros cometidos em filmes históricos, e que realizem um esforço para retirar-se definitivamente do empirismo nas análises fílmicas.

Robert Rosenstone (1988) e Hayden White (1988) consideraram em seus artigos estampados na The American Historical Review que o cinema permite ao historiador libertar-se daquilo que seria a profundeza solitária das bibliotecas – expressão de Rosenstone – para integrar-se a um público potencialmente elevado.

A metáfora de Rosenstone é compartilhada por Hayden White, que expressou a opinião de que os historiadores também devem reconhecer que a representação de eventos históricos, agentes e processos em imagens visuais pressupõe o domínio de um léxico, de uma gramática, de uma sintaxe, enfim, de uma linguagem e um discurso radicalmente diferente daquele utilizado para a representação sumamente verbal. Para White (1988), tem sido frequente os historiadores tratarem de registros fotográficos, cinematográficos e dados de vídeo como se pudessem ser lidos da mesma forma que um documento escrito.

Exibindo a experiência de participação ativa na produção de obras cinematográficas norte-americanas, Robert A.Rosenstone defende a seriedade dos cineastas, mas revela que algo acontece entre o sinuoso caminho da páginas dos livros de história para as telas. Haveria assim, segundo o autor, um aparentemente incontornável desencontro entre aqueles que trabalham com palavras, em relação àqueles que fazem das imagens – e das emoções – em movimento, o seu ofício. Enfim, se os filmes costumam violar a noção que os historiadores fazem da história, não caberia insistir em um preciosismo dos eventos históricos quando levados à filmagem. Afinal, popularizar a História corresponde a negar que o conhecimento histórico não venha a se tornar, conforme alhures já disseram, um conhecimento sob o risco da super especialização, circulante apenas entre historiadores, tornados uma espécie de sacerdotes de uma misteriosa religião, voltados a comentar ‘textos sagrados’.

 

A ‘Metáfora do Teatro’ também vale para as ‘telonas’? O ato cognitivo da empatia histórica

O fato de pesquisadores do porte de Marc Ferro, Pierre Sorlin, Hayden White e Robert Rosenstone, com variados fundamentos, afiançarem a utilização do cinema para uso da História transmite certa segurança aos historiadores para avançar em seu emprego didático. Contudo, precisar o ‘estado da arte’ na tensa relação entre o cinema e a História, apenas resolve parte do problema que formulamos no caminho a que o cinema venha a desempenhar um papel proeminente no tocante à orientação histórica em momentos da vida prática, assumindo com isso, relevância social, e contribuindo com o aprendizado histórico junto ao público escolar, cimentando identidades, atribuindo sentido à experiência temporal, estabelecendo salvaguardas enfim, na perspectiva da didática da História, para que não ocorram descolamentos entre os interesses daqueles que pesquisam a ciência da História, e as carências de orientação no tempo (RÜSEN, 2001; RÜSEN, 2014), ou ainda, nas palavras de Luís Fernando Cerri, ao atendimento das ‘necessidades sociais’, condição impeditiva a que a História venha a tomar “o caminho que leva a um conhecimento definido como uma ‘especialização esotérica’” (CERRI, 2011, p. 53).

 

Parte das ações que envolvem o processo de ensino e aprendizagem da História mediante a contribuição de registros fílmicos no ambiente escolar foi oferecida por Circe Maria Bittencourt (2008) e Carlos Alberto Vesentini (2009). A proposta de Vesentini é presidida por dois grandes eixos de tarefas a serem executadas pelos docentes: a primeira diz respeito à escolha dos filmes, e encontra-se ligada à relação da temática a ser tratada, obviamente imbricada ao currículo da disciplina escolar; a segunda exige uma operação que o autor denominou por ‘desmontagem’, tratando-se de um trabalho prévio à projeção em sala de aula. Circe Bittencourt avançou suas observações associando os filmes a um grande rol de possibilidades didático-pedagógicas, conjunto ao qual a autora denominou por ‘documentos não escritos na sala de aula’, entre os quais inclui objetos de museus, música, rádio, fotografia e televisão. Tratam-se de contribuições relevantes, que oferecem recursos metodológicos aos professores, e que por isso, valem ser consultadas.

 

Porém, entendemos ser necessário ir mais além da elaboração de fichas técnicas sobre os filmes ou fazer nossos alunos refletir sobre a forma com que captam imagens fílmicas, e então, nos debruçarmos sobre uma questão que Peter Miskell (2011, p.287) denominou por desafio pós-modernista lançado aos historiadores. Segundo Miskell:

 

“No centro [da questão entre a História e o Cinema] está a afirmação de que não existe verdade histórica. A tarefa do historiador não é descobrir uma única versão (‘verdadeira’) de eventos passados que constituem a ‘história’; pelo contrário, os estudos do passado que os historiadores fazem são influenciados fundamentalmente pela perspectiva política/intelectual a partir da qual são escritos. A história, portanto, é ‘criada’ para se adequar às necessidades daqueles que desejam usá-la; não é algo que ‘está aí’, esperando para ser descoberto. Sendo assim, é impossível afirmar que qualquer visão histórica seja mais verdadeira ou confiável do que outra” (2011, p. 287)

 

Conforme observaram Cardoso e Mauad (1997), as obras cinematográficas, via-de-regra, são intrinsecamente narrativas, e cabe privilegiar a análise dos seus aspectos narrativos. Ora, a História é basicamente narrativa, e o historiador Hayden White (1995) afirmou em obra emblemática, que a História é basicamente uma estrutura verbal na forma de um discurso narrativa em prosa, posta no formato de um enredo. Por seu turno, José Carlos Reis nos diz que:

 

“Há uma tradição da narração, que não é uma forma morta, mas um jogo de inovação e sedimentação. Nossa cultura ocidental é herdeira de diversas tradições narrativas: hebraica, cristã, anglo-saxônica, germânica, ibérica. São paradigmas. Há também as obras-modelo: Ilíada, Édipo, Histórias. Esses paradigmas fornecem as regras para a experiência narrativa posterior”. (2003, p.142)

 

Jörn Rüsen (2001) entende que a narrativa histórica é um ato de fala – de universalidade antropológica tanto incontestável, quanto determinante do pensamento histórico – onde ficam sintetizadas, sob a forma de unidade estrutural as operações mentais constitutivas da consciência histórica. Em outras palavras, a consciência histórica fica realizada sob a narrativa histórica.

 

Talvez possamos considerar o valor assumido pela narrativa no cinema, para aproximar a análise fílmica a ser conduzida pelo professor em similaridade a outra arte cênica: o teatro. Conforme se sabe, tendo surgido na Antiguidade, uma das funções da “2ª arte” na polis grega era a produção da catarse. O teatro visava a instruir os cidadãos nos seus deveres, interpelar sobre suas potenciais fraquezas, e estimular, pela catarse, a inspirar “pena e temor” (ARISTÓTELES, 1936, p. 36) para que as tradições fossem mantidas, afastada a harmatia, ou falha trágica.

 

Aristóteles valorizava a tragédia, e obviamente inferimos, as lições colhidas por Prometeu, Édipo ou Medeia. Na contemporaneidade surgiram novas poéticas, e com essas, outras possibilidades que ao invés da catarse, prezam pela conscientização, tal como formulado na dramaturgia de Bertolt Brecht.

 

Esse exercício de conscientização consistiria em que os alunos, ‘transportados’ para as cenas dos filmes (históricos) se aproximem dos personagens, e sejam capazes de internalizarem de modo subjetivo, a experiência do outro, estimulada a alteridade histórica, entendendo o personagem histórico como alguém de outro tempo, e com o auxílio da imaginação, da fantasia e da estética propiciadas pela ‘magia’ do cinema, tornem-se capazes de realizar julgamentos históricos.

 

Em cartaz...

A escolha das obras cinematográficas é um capítulo à parte. Convém lembrar que quando tratamos de cinema, pisamos em território estrangeiro, com vistos de ‘turista’ em nossos passaportes de historiadores. Algumas possibilidades alheias ao universo dos blockbusters se apresentam: a ‘montagem soviética (A greve, O encouraçado Potemkin, Outubro); e o neorrealismo italiano (Roma, cidade aberta; Vítimas da tormenta; Ladrões de bicicleta) podem ser opções surpreendentes nos aspectos referentes a uma formação histórica de sentido, o que significa, “interpretar a experiência temporal de uma maneira bem determinada, a saber, mediante recurso à experiência do passado” (RÜSEN, 2014, p. 181).

 

Alguns filmes de Chaplin continuam atraentes. Como viviam os operários na sociedade industrial mais “portentosa” da primeira metade do século XX? O espectador encontra pontos de contato entre o personagem e a sua vida familiar, e se conscientiza, encontrando motivação para pensar de maneira realista a sua própria condição objetiva de subsistência (Marx). É isso que deve ser buscado nas mensagens que Eisenstein, De Sica, Rosselini ou Chaplin nos oferecem. Em ‘Tempos Modernos’, observemos a icônica cena da ovelha negra, a bandeira vermelha que acena para algum balizamento, mas que também alude à Revolução, o posicionamento dos agentes do Estado, funcionários do bureau executivo a serviço de uma classe: a burguesia (Marx), que se espraia tanto nos aparelhos ideológicos estatais, mas também em seus aparelhos repressores, pela ação de forças policiais (L. Althusser).

 

Fig. 1. Fonte: http://fatosociologico.blogspot.com/2010/05/blog-post.html

 

Quando escolhido adequadamente entre várias versões disponíveis, o cartaz pode reforçar a mensagem contida na obra. Tomemos a figura 1, referente ao cartaz original de ‘Tempos Modernos’. Carlitos, em seu uniforme de operário, está no controle da situação. Os disjuntores da indústria foram desligados, o que significa que as máquinas pararam por falta de energia. Ao espectador a mensagem seria que ao proletariado cabe, no coletivo, decidir, parando a produção se preciso, organizando-se com vistas às demandas da sua classe. No decorrer do filme essa necessidade aparece sobejamente reiterada: no monumental relógio, desnaturalizador do tempo, na multidão transformada em rebanho de ovelhas – onde como alerta, uma delas difere pela cor negra – ou ainda na imensidão do maquinário, apequenando quem ali trabalha, com engrenagens que, aliás, acabam por absorver o próprio Carlitos.

 

À guisa de conclusão

A Didática da História mantém compromissos com a ciência histórica, mantendo estreito contato com a dinâmica social, com vistas a evitar possíveis descolamentos entre as ‘carências de orientação no tempo’ e os interesses de avanço nas pesquisas. Não é de se estranhar, portanto, que as práticas da Didática da História tenham que se fundamentar de maneira consistente nas questões propriamente epistemológicas entre a História e o Cinema, que aqui nos demoramos.

 

Enfim, se o cinema pode oferecer, sob a ótica da Didática da História, uma espécie de veículo para o ato cognitivo da empatia histórica, a exigir conforme sabemos, a internalização da experiência do outro, caberá aos professores de História estimular a que seus alunos lancem mão da imaginação, da fantasia e da estética oferecidas pelos recursos da ‘Sétima Arte’.

 

O cinema pode, sob tais parâmetros, dar testemunho que as produções cinematográficas não pretendem ressuscitar o passado, mas disponibilizar uma narrativa que oriente os momentos da vida prática, demonstrando que no vivido humano, os homens “comuns”, também ‘escrevem’ seus roteiros, ‘dirigem’ suas cenas, e consequentemente interpretam os atos que – orientados pela consciência histórica – ‘escreveram’ com suas escolhas e ações pretéritas. Nessa comparação entre os filmes e a realidade humana, caberia lembrar que se a vida pode afigurar-se a um ‘jogo’ de cena, devemos ter em mente que só jogamos uma vez, continuamente e sem camarins, que não há ‘cortes’, ‘montagens fílmicas’, ‘saídas’ de cena, e nem ‘reecenações’ do mesmo ato. Afinal, a vida é um ‘jogo’, jogado ‘para valer’.

 

Referências biográficas

Prof. Dr. Antonio Carlos Figueiredo Costa, é docente efetivo (História) na Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), líder do Grupo de Pesquisa José Carlos Mariátegui e autor de livros e artigos na imprensa universitária.

 

Referências bibliográficas

ARISTÓTELES. Poética in: Aristóteles. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

 

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. 2.ed. Ensino de História: fundamentos e métodos. 2.ed. São Paulo: Cortez, 2008.

 

CARDOSO, Ciro Flamarion; MAUAD, Ana Maria. História e imagem: os exemplos da fotografia e do cinema in: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997, p. 401 – 417.

 

FERRO, Marc. O filme: uma contra-análise da sociedade? in: LE GOFF, Jacques; NORA, Pierre (dir.). História: novos objetos. 4.ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995, p. 199 - 215.

 

KORNIS, Mônica Almeida. História e cinema: um debate metodológico in: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 5, n. 10, 1992, p. 237-250.

 

MISKELL, Peter. Os historiadores e o cinema in: LAMBERT, Peter; SCHOFIELD, Phillipp (orgs.). História: introdução ao ensino e à prática. Porto Alegre: Penso, 2011, p.282 – 293.

 

REIS, José Carlos. História&Teoria: historicismo, modernidade, temporalidade e verdade. Rio de Janeiro: FGV, 2003.

 

ROSENSTONE, Robert A. History in Images/History in words: reflections on the possibility of really putting history onto film in:The American Historical Review, v. 93, n.5, dec. 1988, pp. 1173 – 1185.

 

SORLIN, Pierre. Clio a L’ecran ou L’Historien dans Le noir in: Revue d’histoire moderne et contemporaine, T. XXI, n.2., avril – juin, 1974, PP. 252 – 278.

 

VESENTINI, Carlos Alberto. História e ensino: o tema do sistema de fábrica visto através dos filmes in: BITTENCOURT, Circe (org.). O saber histórico na sala de aula. 11. ed. São Paulo: Contexto, 2009, p. 163 – 175.

 

WHITE, Hayden. Historiography and Historiophoty in: The American Historical Review, v.93, n. 5, dec. 1988, pp. 1193 – 1199.

 

WHITE, Hayden. Meta-História: a imaginação histórica do século XIX. 2.ed. São Paulo: Edusp, 1995.

46 comentários:

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  3. Olá, Geovanna! Acho que um bom ponto de partida seria identificar seu público antes de usar o cinema. É mídia de massa, e a maioria deverá gostar. Trabalhar com um título que que esteja imbricado ao tema, na seleção curricular que fez...etc...e tratar o registro fílmico efetivamente como um material didático.

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  4. Tradicionalmente a sala de aula é o local onde vemos alunos sentados, enfileirados e na maioria das vezes completamente mudos, inibidos em expor seus pensamentos.
    Em seu texto é citado que cabe aos professores de História estimular a que seus alunos lancem mão da imaginação, da fantasia e da estética oferecidas pelos recursos da ‘Sétima Arte’. Quais desafios o professor de história tem para levar o cinema até as salas de aula ??

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    1. Olá, Lílian. Olha, eles não precisam necessariamente ficar enfileirados, pois poderão formar círculos, a forma geométrica considerada "mais democrática" pois quaisquer das extremidades estarão equidistantes do centro. Lançar mão da imaginação é como assistir o Harry Potter, é divertir-se, é saber que ainda está ali, mas, na imaginação, participar da travessia do Atlântico por via de um documentário. Isso é aventura. Quando vemos marinheiros se alimentar no século XVI com bolachas mofadas, água mal cheirosa, e mesmo assim encarar o desconhecido, nós percebemos que há algo muito palpável entre eles e nós. Lutavam pela sobrevivência. Daí atentamos empaticamente com esses homens do passado (alteridade e empatia históricas). Acho que o grande desafio será escolher bem o filme, não torná-lo atividade sonolenta e inserí-lo em algo maior, talvez o início de um rpg de mesa, construído por todos. Ah, e nunca se iludir.Ressureições históricas não existem, rs.

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  5. A partir de qual momento você enquanto professor de história viu a necessidade de trabalhar o cinema em sala de aula?? Que fatos ocorreram e o que te motivou a escrever este texto?

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    1. Lilian, minha motivação é saber que em breve, graduandas como você , suas colegas, e outras milhares, estarão em sala de aula. Creio que muito do que sofremos hoje em dia, é pela ignorância de muitos em relação à História. Quando o gás de cozinha está nas alturas, o combustível, o alimento, e tudo o mais estão pela hora da morte, não devemos trocar o fornecedor de gás, o posto de gasolina ou o supermercado, mas o Presidente da República, o Governador do Estado, Prefeitos, Deputados, Senadores. Ensinar história é motivar e orientar. Motivar a intervir no espaço público e orientar no sentido de realizar escolhas coerentes, e não motivadas por pulsões de momento. Exige, repetimos, o pertencimento a um passado público, que passa pela Escola, e que se desdobra além da vida familiar.

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    2. Obrigada professor! Como estudante do Curso de Pedagogia da Uemg Ibirité, vejo nas suas respostas muita coerência. Me proporciona uma visão mais aberta da realidade do ensino de modo geral, além de me impulsionar para seguir em frente e firme na milha escolha de ser professora !!

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    3. Siga em frente, Lilian, sigamos juntos nessa luta. Como dizia o Che, "hasta la victoria, siempre!"

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  6. Olá professor, sou Andreina Meirielle, aluna do quinto período noturno da UEMG/Ibirité do curso de Pedagogia. Entendemos a importância do cinema como forma de pesquisa e conhecimento além de outros benefícios. Mas como fazer com que os alunos se interessem por ele através de sua história e não apenas pelo lazer e entretenimento que ele nos oferece ? Também não podemos esquecer que nem todos têm acesso a esse privilégio. Como levar essa questão para a sala de aula ?

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    1. Olá, Andreina. Quando você trata do cinema na escola, espaço institucional, ele funciona como material didático e atvd lúdica. A sessão de cinema na escola deve ser precedida por alguns cuidados: pesquisa prévia, tratamento do tema com algum cuidado, não simplesmente jogar a turma à frente da tela, mas propor uma atividade, uma roda de conversa. Quanto ao acesso a esse bem cultural, o aluno mais carente terá a possibilidade de acesso, e é por isso que se recomenda a impressão de um cartaz (como na entrada do cinema), de uma pipoca (a escola, as merendeiras poderão fazer isso...), um guaraná ou qualquer outro refresco, etc...antes de tudo há de haver vontade. Adianto que poderá receber mais desestímulos que apoios. Mas certamente colherá bons resultados. Tem sido assim no mundo.

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  7. Olá professor! Sou aluna do 5º período noturno do curso de Pedagogia da UEMG de Ibirité. Parabéns e obrigada pelo seu trabalho que é tão importante na nossa formação. Sabemos que o ensino de história vai além de decorar datas e eventos, uma vez que estamos formando cidadãos para a nossa sociedade. Vejo no seu texto como o cinema pode ser um aliado nesse processo de formação ativa dos alunos, porém, uma vez que temos pais e responsáveis que podem levar para um lado extremo da política, como utilizar o cinema para transformar o processo de ensino aprendizagem e não soar como doutrinação desses alunos?

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    1. Olá, Marianne. Obrigado pela pergunta, e por, acredito, confiar naquilo que tento oferecer a vocês com o zelo, atenção e carinho tanto fazem por merecer. Essa preocupação com a tal 'doutrinação' é recorrente, pois discurso manipulado por aqueles que enfim, tentam 'doutrinar', mas com base em mentiras e fake news, com projetos esdrúxulos do tipo 'escola sem partido', pois o único partido que conhecem é o partido político, sempre obviamente vinculados a projetos políticos de manutenção no poder. Não, a escola toma sim, partido, mas partido em prol da vida, da ciência, da educação, do bem estar da sociedade. A escola não estimula vioências, não promove negacionismos, não faz piadas com as tragédias humanas. Bem, primeiro vc deverá estar amparada na legislação: a LDB fala em novas linguagens para o ensino, e o cinema é uma dessas linguagens, uma linguagem de massa aliás, essa linguagem fílmica, cinematográfica. Ainda na questão do amparo, os também já citados PCN's, e seus temas transversais. O PPP da Escola também deverá ser visto. E por fim, o conhecimento científico, por isso, alinhei no texto que leu o que pensam historiadores como Marc Ferro, P. Sorlin, etc...vc estará abrigada sob esse forte guarda-chuva.

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  8. Bom dia, professor! Sou estudante do 5° Período noturno do curso de Pedagogia da UEMG - Unidade Ibirité. Estou aqui novamente para refletir sobre a sua escrita.
    Sabemos que nem sempre a ficção se mostra fiel a realidade. Como o professor poderá selecionar um filme que melhor retrete o conteúdo que deseja ofertar aos estudantes? Apenas assistir previamente o filme é suficiente ou o docente deve realizar uma pesquisa mais aprofundada?

    Larissa Malta Vasconcelos
    larissamaltav@gmail.com

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    1. Boa pergunta, Larissa! O pessoal que atua nos cineclubes, base inicial para formar o gosto pelo cinema, fala na necessidade de, nesses cineclubes, realizar pesquisas, e acompanhar o acolhimento da programação. Penso, juntamente com outros, que podemos aplicar isso. Conhecer o seu público, preparar uma ficha onde possa avaliar a obra, conhecer o que a crítica disse sobre o filme, etc... Há uma obra fantástica do aclamado diretor François Truffaut, intitulada "FAHRENHEIT 451", que é de 1966.O filme é baseado no livro homônimo de Ray Bradbury, lançado em 1953, e trata de um futuro distópico, onde os bombeiros são utilizados para localizar e incinerar livros. A sociedade desse terrível futuro imaginado não possui privacidade, e deve, ao entrar nos ambientes mesmo domésticos, ligar telas de televisor, pois são vigiados. Ou seja, uma espécie de Big Brother controlado pelo Estado. Ora, se pensarmos que os nazistas queimavam livros, obstaculizando o livre pensamento, e se temos cada vez mais câmeras nos controlando, os reality shows ainda tem grande audiência, e as livrarias estão às moscas, e muitas chamadas de rua, fora dos espaços homogeneizados dos shoppings estão fechando as portas ( se não for auto-ajuda, religioso, ou subliteratura de gurus não vende, encalha) vemos que guardamos alguma similaridade. Então, podemos usar um filme desses como reflexão, pois mergulhamos nessa magia, na alteridade e na empatia histórica, que com essa espécie de túnel do tempo, nos é permitida. Todo esse discurso, é fundamental para defender a prática do cinema nas escolas. E deixe os lobos uivarem...

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  9. Bom dia! Sou acadêmico do 5º semestre do curso de História-Licenciatura pela UFMS/CPNA. Acho de grande valia trazer a metodologia do cinema para sala de aula ainda mais para as aulas de História; porém segundo Napolitano (2011), "as fontes escritas acabaram se prestando mais a esse procedimento de busca da realidade por trás da linguagem do que as fontes audiovisuais". Levando em questão esse pressuposto qual metodologia além do cinema (filme), poderia ser usado após para melhor compreensão dos alunos/as do conteúdo?

    Leandro Cordeiro da Silva

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    1. Olá, Leandro! O autor que cita deve ser o Marcos Napolitano, talvez uma 5ª edição da obra "como usar o cinema na sala de aula" ou será um capítulo de livro que ele publicou sobre fontes audivisuais no livro Fontes históricas? Em qualquer das situações, trata-se de autor que oferece boas soluções. Lembro a todo instante que o artigo que alinhei não defende o abandono dos textos escritos, longe disso. Mas se propõe a encorajar aqueles que desejam utilizar esse recurso. E por isso, utilizei uma secção do trabalho para que verificássemos o 'estado da arte', a quantas andam essas discussões. Poderá ser útil caso aqueles que se decidam por usá-la, ao sofrer questionamentos, estejam bem fundamentados. Há toda uma bibliografia importante como algo que desperte o interesse, que transporte a assistência para uma cena que possa ser aproveitada pelo professor para o debate. Daí o papel das seções seguintes. Há historiadores influentes na academia que procuram cercar-se em altas torres herméticas (normalmente o 4º andar, os gabinetes, he,he) e tentam se isolar do que acontece no 'mundo dos mortais'. Esquecem que a História deve chegar ao povo, mas para que isso aconteça, o povo deve ter despertado seu interesse para a História. Sob pena da História se tornar uma espécie de conhecimento circulante apenas entre "iniciados", como em uma "seita secreta". A história escolar é uma boa porta de entrada para desenvolver esse gosto. Métodos tradicionais de "encher o quadro" para que "copiem no caderno" por incrível que pareça, dão menos problemas para quem as adota. Espere encontrar muita resistência quando for utilizar cinema, teatro, música, etc...Os didatas alemães como J. Rüsen, K. Bergman, K-E Jeismann defendem formas de abordagens a partir de métodos inovadores em relação ao lidar com a História. Se os tais métodos inovadores são aqueles que a teoria da consciência histórica preconiza, o que importará de fato, é a abordagem. As três dimensões que fundamentam as exposições (estética, ético-política e cognitiva) são muito facilitadas na Escola, na história escolar, por meio do cinema, que é mídia de massa. Música, gamificação, teatro, HQ's. Ou seja, a todo dia aparece uma mídia nova, e teorias a ampará-la. Sugiro a você dois cursos gratuitos na UFSCAR, cineclubismo e educação e gamificação para a educação. A todo dia aprendemos algo novo. Não dava nada pelo curso de gamificação, e lá tomei contato com a teoria da convergência do Jenkins. Encomendei, o livro já chegou e estou lendo. O que a teoria da consciência histórica defende são textos curtos, e busca pela imaginação, fantasia, estética. Uma tela de computador ligada a um projetor, um data swom, e este voltado para uma tela de projeção poderá se tornar muito interessante, caso esteja no endereço de visita de algum museu histórico. Criatividade é algo sensacional, inova, e não custa nada. A empatia é difícil enquanto ato cognitivo, exige que a experiência do outro seja internalizada no tempo. Ora, mas isso somente poderá ser realizado de modo intersubjetivo! O outro é o outro!!!
      Já para um curso de História como a graduação que faz, os textos deverão cumprir um papel fundamental. Até conseguimos nos tornar Professores sem escrever muito bem, mas sem ler e com qualidade, ficará muito difícil. Então, o que é válido para o modus operandi da Universidade, não se adequa muito bem para a cultura escolar, para a história escolar. A prioridade das fontes escritas que ocorre na Academia quando transportada para o ambiente escolar poderá tornar a História desinteressante e até odiada; defendê-la ainda que inadvertidamente enquanto prioridade nas aulas não encontra boa aceitação, apesar de ter se formado uma espécie de doxa, desde nossos bisavós que decoravam textos, datas, nomes, eventos, etc...Aproveito para desejar sucesso no curso e resiliência na futura profissão.

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  10. Olá, me chamo Gabriel Alexandre Izá da Silva e sou aluno de Licenciatura em História da UFMS de Nova Andradina. Certa vez, um professor de história no primeiro ano do ensino médio me passou o filme Apocalypto de Mel Gibson para falar sobre a descoberta da América, no entanto, o filme em si não tem essa temática mas nos da um contexto das civilizações pré-chegada dos europeus. Uma professora comentou outra vez que este professor deveria ter passado um documentário ou um filme com tom mais realista, eu ja acredito que o filne nos da o contexto que precisávamos e nos entreteu também como alunos. Na sua opinião, qual o ponto que o professor deve ceder quando opta por passar um filme para a classe, ele precisa ser um documentário? Um filme de ação foge do intuito da aula?

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    1. Olá, Gabriel Izá! Obrigado pela pergunta. Cabe esclarecer que as perguntas ajudam a "retornar" a um texto cuja composição foi alinhada sob 3.000 palavras apenas, no máximo. Assim, essas perguntas ajudam a ajustar o sentido do texto às necessidades do público leitor, que é, ao fim e ao cabo, o destinatário, o usuário desse texto. Minha opinião é que o seu professor agiu corretamente, pois a proposta da sessão cinematográfica não é coletar do registro fílmico uma espécie de ressureição do real, o que é impossível. E mesmo um documentário está sujeito a elementos comuns a toda produção desse circuito, independente da estrutura ou do gênero. O tema (ideia a ser filmada), o argumento, será a diretriz do trabalho. Contudo, a partir dessa ocorre o interesse de financiadores. O cinema, nas produções mais simples, é atividade cara! Estabelecidos o desenvolvimento do roteiro, realização do argumento por inserção e articulação de elementos para a trama fílmica, temos o desenvolvimento dos personagens, diálogos, cenários, figurinos, sonoplastia...As cenas são filmadas autonomamente, fora da sequência do roteiro, onde aproveitam-se figurantes, isso é muito comum quando se precisa de multidões. Há locações externas (gastos...), atores que fazem participações especiais, ou seja fora do elenco regular (gastos...). Então, é na edição do filme que a narrativa conseguirá tomar o rumo daquele sentido inicial proposto no roteiro. Sonoplastia e sonorização costuma finalizar o processo. A exibição de um filme não exime de atividades outras. O que o filme oferece é o fascínio, desperta para o interesse, demonstra que em outros tempos, pessoas viveram e sofreram, agiram e foram sujeitos da História. Na identificação com eles, teremos a catarse, identificaremos as suas falhas trágicas (harmatia), mas também iremos ter a consciência que a História é um constante chamamento a que atuemos, a que mantenhamos posições, a revermos procedimentos. Um filme de ficção poderá ser tão bom quanto um documentário; um documentário por si só não garante o tom realista que (quase sempre em vão) muitos almejam. Se o seu antigo professor, como disse, 'prendeu' a sua atenção e dos seus colegas, acho que conseguiu despertá-los para o valor da História, para que tomados pela empatia e alteridade históricas, fossem motivados a estudar, a acessar outras fontes. Filmes de ação não fogem necessariamente do que esperamos de uma aula. Eles não substituem o livro didático. Caberá ao professor planejar o que fará, de forma consciente. A didática da História, insisto, conforme a preconizam os didatas alemães tem alcançado bons, excelentes resultados. Nunca prestamos muita atenção a isso, e via-de-regra se optou pela didática geral. O resultado não tem sido bom, e muitos professores bem sucedidos, já atuam, meio instintivamente, para mudar o quadro. É preciso que se dê uma maior atenção à didática da História. Sugiro que leia Jörn Rüsen e Klaus Bergman. Sucesso no curso e na profissão.

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    2. Muito obrigado. A resposta foi mais do que satisfatória, haha, acabei aprendendo algo mais do que esperava e desculpas por minha pergunta não ter sido diretamente ligada as linhas do texto, mas realmente me surgiu esse pensamento que quis expressar. Agradeço novamente

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    3. Olá, Gabriel! Que bom que aprendeu algo a maior! E não há de haver desculpas, rapaz, é isso mesmo, siga em frente, e sucesso na futura profissão.

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  11. Olá Antônio, tudo bem?
    Espero que sim!
    Em Primeiro lugar, quero te parabenizar pelo excelente texto! O cinema sem dúvida é um potente recurso didático para as aula de História. Bem como uma rica fonte histórica, tanto que em minha dissertação de Mestrado trabalhei com o filme biográfico do artista gaúcho Teixeirinha, para compreender melhor questões do imaginário e da memória coletiva do RS.
    Quanto o uso dos filmes em sala de aula, embora saibamos da importância do mesmo, algumas coordenações pedagógicas escolares, tem
    Grande resistência em utilizá-los nas aulas, alegando que seriam apenas para “matar tempo”. Que sugestão tu darias para um professor que enfrenta este desafio?
    Desde já agradeço
    Vitória Duarte Wingert

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    1. Sugiro que converse com sua Coordenadora Pedagógica, mostre para ela que há fundamentação naquilo que faz. Há postagens acima sobre o problema, e é natural a preocupação. Vc deve se resguardar, mas não deixar de realizar aquilo que acha justo e necessário, dentro das possibilidades que a tua Escola lhe oferece. Imprima esse texto, e as postagens dele também. Tenha em mente, e explique para a sua coordenadora, que não se trata de 'matar o tempo', conforme uma doxa mal difundida possa fazer parecer. Mostre para ela que a LDB/96, os PCN's História/Geografia trazem isso. Lembre que ela sofre pressões de pais, também imersos na tal doxa, ilusão que copiar quadro negro e decorar datas e nomes ensina algo.

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    2. Olá, Vitória. Quero complementar a resposta, no intuito de ajudá-la com melhores condições de argumentação. Esse Simpósio costuma publicar as comunicações na forma de capítulos, em e-books´assinados pelos mediadores de mesa, colocados na condição de organizadores dos volumes. Então, sugiro que continuem imprimindo as falas do debate na integralidade, pois vários colegas realizaram perguntas importantes como a sua. No caso da comunicação fica a sugestão de esperar a publicação, que costuma sair rápido. Ficará mais documentada diante da sua coordenadora. Ah, e diga para ela que o professor que a escreveu ajuda a formar professoras como ela, que aquilo que ali está estampado é parte de projetos de ensino, pesquisa e extensão, e que a sala de aula funciona, no contato profícuo com minhas valorosas alunas que militam em prol da Educação, como um sopro oxigenador em relação à realidade que nos circunda. Sucesso para ti.

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  12. Olá Antônio, tudo bem?
    Espero que sim!
    Em Primeiro lugar, quero te parabenizar pelo excelente texto! O cinema sem dúvida é um potente recurso didático para as aula de História. Bem como uma rica fonte histórica, tanto que em minha dissertação de Mestrado trabalhei com o filme biográfico do artista gaúcho Teixeirinha, para compreender melhor questões do imaginário e da memória coletiva do RS.
    Quanto o uso dos filmes em sala de aula, embora saibamos da importância do mesmo, algumas coordenações pedagógicas escolares, tem
    Grande resistência em utilizá-los nas aulas, alegando que seriam apenas para “matar tempo”. Que sugestão tu darias para um professor que enfrenta este desafio?
    Desde já agradeço
    Vitória Duarte Wingert

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    1. Sugiro que converse com sua Coordenadora Pedagógica, mostre para ela que há fundamentação naquilo que faz. Há postagens acima sobre o problema, e é natural a preocupação. Vc deve se resguardar, mas não deixar de realizar aquilo que acha justo e necessário, dentro das possibilidades que a tua Escola lhe oferece. Imprima esse texto, e as postagens dele também. Tenha em mente, e explique para a sua coordenadora, que não se trata de 'matar o tempo', conforme uma doxa mal difundida possa fazer parecer. Mostre para ela que a LDB/96, os PCN's História/Geografia trazem isso. Lembre que ela sofre pressões de pais, também imersos na tal doxa, ilusão que copiar quadro negro e decorar datas e nomes ensina algo.

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  13. Acredito que é muito enriquecedor ultilizar o cinema no ensino de história, trás o lado visual que prende os alunos!! Tornando a aula atrativa! Qual dica o Sr. me daria para facilitar a escolha do material? Geovana Bissacot

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    1. Essas escolhas são sempre algo muito pessoal, Geovanna. Trata-se do tempo disponível, o público que vc atende, os recursos materiais, e mesmo a sua proposta (plano) de ensino. Chaplin é fantástico: Carlitos nas trincheiras (primeira guerra mundial), Tempos Modernos (sistema de fábrica, capitalismo), o Grande Ditador (fascismo e ditaduras). Por falar em ditaduras, temos para o Brasil Contemporâneo, O Dia que durou 21 anos; Setenta; Cidadão Boilesen; para uma visão distópica de futuro Fahrenheit 451, pensando em uma comédia que fala também de algum futuro, Wood Allen, com "O Dorminhoco". Creio que deva alinhar a escolha do filme à sua proposta maior.

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  14. Olá Prof. Não tenho questões, apenas agradeço pelo texto. Traz um levantamento importante a respeito do tema. Tenho trabalhado com alunos das escolas(faculdade tb) com os curtas metragens com um bom resultado no que concerne a utilização das películas inicialmente para desenvolvimento de dada estética e depois como fonte. Tem sido uma excelente experiência. Estou com vontade (vontade) de acrescentar a relação com a literatura, teria alguma sugestão bibliográfica acabei fazendo uma pergunta. Abraço
    Ivaneide Barbosa Ulisses

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    1. Olá, Ivaneide. Obrigado pelas palavras gentis. Acho curtas metragens ótimos, geralmente. Iria sugerir que fizesse uma relação com a literatura de cordel, que vc, dependendo de onde mora, encontrará em bancas de jornais, feiras temáticas, sebos e livrarias.

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  15. Parabéns pelo trabalho, Antonio! Essa proposição nos leva a perceber a importância da didática a luz da teoria da consciência histórica. Parece obvio dizer que ao trabalhar com o cinema no ensino de história não devemos deixar que as obras falem por si, mas muitas vezes o óbivio tem que ser dito. Como mediadores do processo de ensino e de aprendizagem precisamos nos munir da teoria para que a prática seja satisfatória e produza sentido. Obrigada pelo trabalho!

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    1. Olá, Keren, minha inteligente e talentosa assistente de pesquisa sempre me "jogando para cima", melhorando meu estado de ânimo. Sim, Keren, os historiadores costumam 'separar' sobretudo no ensino, a teoria da prática. Temos que rever velhas e antiquadas práticas. Será bom para todos nós.

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  16. Olá, muito obrigado pela contextualização relacionada ao cinema como recurso ao ensino da história. Minha indagação neste assunto se relaciona a romantização encontrada em diversas obras cinematográficas relacionadas a acontecimentos históricos, que por muitas vezes, acaba por se distanciar do fato ocorrido e proporcionar a inexatidão de fatos, para que em troca consiga prender a atenção do expectador na obra através de tramas possivelmente inexistentes na história. Visto isso, gostaria de perguntar até que ponto a história factual pode ser modificada a troco de objetivar a concentração em uma obra cinematográfica? E se bastante modificada, valerá a pena se conseguir a atenção devida pelo público em determinado assunto?

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    1. Olá, Clycia! Olha, essa questão volta e meia aparece na pauta dos historiadores. A fidelidade aos eventos. Mas os cineastas tem necessidades que envolvem inclusive o tempo da projeção. É preciso encurtar, resumir, etc...Antes os historiadores desejavam, como o prof Jonathas Serrano e tantos outros, "ressuscitar" os eventos históricos. Após a década de 1960, os ventos da pós-modernidade ajudaram a relativizar muita coisa. Sabe o filme 'Tróia'? Ele foi lançado em 2004. Nesse ano, e no ano seguinte eu era prof. substituto na UFMG, entre outras tantas atividades...rs. Então uma aluna do 3º Período da Licenciatura em História me perguntou o que havia achado desse filme. Eu ainda não havia assistido, mas tratei de fazê-lo. Assisti de forma bem crítica. No filme parece que a guerra será ganha por Aquiles, sozinho, com seu punhado de soldados. Procurei me informar melhor. O que o cineasta fez, na verdade, foi adaptar. O cinema tem seu tempo próprio. Conversando de novo com a moça, disse que havia gostado, expliquei minhas razões (mostra emoções, Príamo defendendo sua cidade, Heitor sacrificando a vida por ela, Aquiles enfrentando o vaidosos Agamenon, onde mais veríamos isso) com base em autores como Hayden White e Nathalie Zemon Davis. Aí a graduanda foi até a biblioteca, emprestou a Ilíada e a Odisséia, leu, e realizou um trabalho bacana ao final da disciplina. O cinema motiva, oferece dramatização, imagens em movimento, não é a única fonte, nem deverá ser, mas é realmente fantástico.

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  17. Olá professor Antônio Carlos! Sou Mayra Estefane dos Santos, aluna do 5°período - Noturno UEMG/Ibirité.De antemão gostaria de agradecê-lo pela partilha de temáticas tão relevantes que nos proporciona tantas reflexões.
    É nítido após a leitura do seu texto a importância e os benefícios de se aliar o cinema ao ensino de história. Entretanto, acredito que tal ação demande uma organização e orientação do professor, para com os alunos, antes da exibição do filme, mas também após. Nesse sentido, como abordar as aproximações e os distanciamentos entre cinema e história para que os alunos possam refletir e também tirar suas próprias conclusões sobre o que foi exposto a eles?

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    1. Olá, Mayra! Temos que explicar que o cinema é um recurso a mais, isso para coordenadores e pais. Aos alunos, é motivação. Você falar que o operário se tornou um anexo de carne à máquina, por força da revolução industrial, é uma coisa; outra é você mostrar Chaplin sendo engolido pela máquina, sendo atado à mesa para que uma invenção bizarra empurre alimentos goela abaixo do Carlitos, bem como as alterações nervosas que o formidável Vagabundo passa. Há mensagens diversas. Explorá-las é o grande desafio. Desenhos são muito bons, pois alunos jovens são muito impressionáveis e imaginativos. Estimulando sua imaginação, eles irão às alturas. É a porta de entrada para que queiram saber mais.

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  18. Olá prof. Antônio. Texto riquíssimo de conhecimentos que com certeza, fizeram a diferença sob um novo olhar. Como dito no texto, não é apenas a transmissão de um filme para a turma, mas sim, uma visão de que história não é somente algo antigo/passado, mas sim o que acontece agora...qual seria então, a melhor forma para se trazer essa consciência para os estudantes?
    grata,
    Sabrina Inácio, 5°P Pedagogia UEMG.

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    1. Olá, Sabrina. O filme interage dentro das operações mentais de formação de sentido (percepção/interpretação/orientação/motivação). Ele ressignifica enquanto passado, desafia no aspecto de propor respostas para alguma contingência presente (a história na verdade tenta responder a questões do presente, como sabe), e acaba por orientar para a ação, motivando para a práxis humana, a vida prática, o dia a dia. O debate sobre o filme, é fundamental, a roda de conversa, para baixar a poeira, e trazer para o chão da sala, alguns temas.

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  19. Boa Noite Professor Antônio Carlos, sou Poliane Diniz, aluna do Curso de Pedagogia 5º Período Noturno da UEMG- Ibirité. Gostaria de agradecer novamente pela oportunidade de estarmos participando e absorvendo reflexões pertinentes. No qual abordam também as possibilidades para que o ensino da História seja mais dinâmicas e não somente teóricas, e os recursos didáticos pode fazer uma imensa diferença para o aprendizado da História, e quanto o cinema no ambiente escolar, seria bem interessante, apresentando a cada fase escolar suas respectivas temáticas. E diante a isso, vale ressaltar que cada ambiente escolar possui suas particularidades e recursos. Nesse sentido, é possível atender as individualidades de formas proveitosas e interativas?

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    1. Então, Poliane. A pesquisa para saber quem é seu aluno é muito importante. As novas mídias facilitam muito, em relação aos recursos. E as animações que são produzidas - veja os novos desenhos animados, são fantásticas.

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  20. Olá Carlos, tudo bem? espero que sim!
    Primeiramente. gostaria de parabenizá-lo pela escrita e discussões evocadas no texto.
    Então, ao ler o texto em alguns momentos me deparei com um conceito muito importante: Filmes históricos. Esse conceito, embora tenha um nome aparentemente autoexplicativo, é de suma importância ao pensarmos na relação cinema-história. Dito isso, gostaria de saber o que você entende por filme histórico?

    José Natal Souto Maior Neto, discente do curso de Licenciatura em História da Universidade de Pernambuco (UPE) CMN.

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    1. Seria o que os especialistas - grupo do qual não faço parte - identificam na tipologia por filmes de reportação histórica. Normalmente recebem o título de épicos, e são adjetivados como superproduções. Muito cuidados, recursos vultosos. Neles, a intencionalidade histórica alinha-se ao apelo publicitário.Independência ou Morte, Lutero, etc...

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  21. Dayane Bernal Aniceto27 de maio de 2021 às 23:21

    Boa noite professor, no seu texto é possível observar que o cinema surge como uma importante ferramenta de uso no ensino e na pesquisa histórica, no entanto é fundamental ressaltar que nos filmes a verdade é uma construção imaginativa, que precisa ser ponderada e criteriosamente trabalhada como tal. Quais aspectos devem ser observados pelo professor (a) antes de levar o cinema para a sala de aula?

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    1. Olá, ter em mente a máxima que um filme é somente um filme. Um bom professor, mesmo com essas questões que colocou, saberá fazer uso de qualquer filme. Ele somente será uma porta de entrada. Obrigado pela pergunta.

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  22. Felipe Luiz Mokochi, bolsista fundação araucaria, curso de geografia- unespar.
    Identifiquei-me muito com a tematica e parabenizo, fato que os filmes quando bem escolhidos e trabalhados de forma correta impulsionam e agucam a curiosidade e atenção dos alunos, lembro-me quando ainda estudante que tal metodologia era eficaz. Minha pergunta: foi feito algum experimento pratico, uma análise baseada na sala de aula, desta forma consolidando qual a poncentagem de eficácia metodologica, saliento que desta forma agregaria muito valor a pesquisa.

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    1. Olá, Felipe. Venho trabalhando com novas metodologias há uns cinco anos. Os trabalhos que minhas e meus alunos apresentam, os seminários em sala, servem como parâmetros de avaliação, além, obviamente, dos cursos de capacitação, oferecidos a nível de extensão. Obrigado pela pergunta.

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