Auricharme Cardoso de Moura

 

MEMES E ENSINO DE HISTÓRIA: EXPERIÊNCIAS E APRENDIZAGENS NO COLÉGIO ESTADUAL ANTÔNIO CARLOS MAGALHÃES, EM TANHAÇU/BA


Os memes estão espalhados no mundo digital. “Virar” meme tornou-se expressão comum nas redes sociais, em programas televisivos, no grupo de amigos, nas conversas presenciais e virtuais de diversas gerações. Os memes, para além de uma brincadeira, uma representação da realidade, uma forma de lazer e entretenimento, vem sendo usado como conteúdo educativo. Professores usam este gênero em sala de aula, páginas e perfis são criados na internet com memes voltados para a educação, seu uso é recomendado por documentos diversos (como a própria Base Nacional Comum Curricular) e questões de vestibular exploram este recurso de maneiras diversas.

 

De acordo com CADENA (2008), o meme teve seu conceito elaborado pelo pesquisador inglês Richard Dawkins, na obra “O Gene Egoísta”, de 1979. Seu conceito estabelece um parâmetro analógico ao gene, como uma unidade de transmissão cultural. Meme, que está relacionado à memória, seria uma imitação, uma cópia, sendo que sua terminologia deriva da palavra “Mimeme”. Assim, a partir de tal relação, o meme teria influência na constituição de identidades.

 

Os memes aparecem nas formas de vídeos, imagens, palavras, frases ou hashtag, sendo muito comum em redes sociais, como o Twitter, Facebook, Instagram e WhatsApp. Pode “viralizar” em poucos minutos, assim como pode ser esquecido com uma semana. Sua popularização ocorreu a partir do ano de 2010, momento em que se transformou em um código, símbolo e idioma que transmite mensagens e conteúdos diversos a milhões de pessoas.

 

Os memes podem trazer discussões políticas, econômicas, sociais, culturais, filosóficas e éticas para a sala de aula. Desta forma, os memes são temas geradores de debates e interações dentro de um processo comunicativo que envolve diálogos entre professor e alunos.

 

Seja crítico, satírico, mordaz, engraçado, cômico, persuasivo, lúdico, divertido, reflexivo, contemplativo, polêmico ou debochado, o meme é uma forma de comunicação que conecta diversos indivíduos, percepções e interesses. Para se tornar uma prática pedagógica significativa, o uso do meme deve se articular com outros materiais didáticos e outros instrumentos teóricos e metodológicos (conceitos, processos e contextos históricos, etc.).

 

Memes são usados nas salas de aula como forma de interação social, construção de saberes, debates, criatividade, participação e inclusão dos alunos que sentem-se atraídos por novidades em sala de aula. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018, p.479), a construção dos currículos escolares deve-se levar em consideração a seleção e aplicação de “metodologias e estratégias didático-pedagógicas diversificadas” no sentido de atender “as necessidades de diferentes grupos de alunos, suas famílias e cultura de origem, suas comunidades, seus grupos de socialização etc.”

 

Além ler e interpretar diversos documentos, o aluno pode passar de simples reprodutor/consumidor de conhecimentos para produtor em potencial dentro de um processo que requer orientação do professor e conhecimento prévio sobre determinado tema. O saber é compreendido como algo aberto, múltiplo e flexível, nos distanciando de ideias e teorias que o abordam como pronto, acabado e imutável.

 

O meme nunca será trabalhado de forma individual ou isolada. Uma análise mais profunda, contextualizada, sistematizada e interdisciplinar se faz a partir da interação de diversas linguagens e áreas do conhecimento humano. Ao professor, cabe mediar este processo no sentido de oportunizar aos discentes ler, interpretar e compreender como diversos gêneros e recursos textuais se completam, se opõem ou divergem acerca de um mesmo tema.

 

Os memes atualmente são usados na pesquisa e ensino de história. Não se trata de uma mera ilustração, mas sim de um material didático subordinado a procedimentos comuns a qualquer fonte. A “operação historiográfica” serve para qualquer fonte, inclusive para os memes. Perguntas como quem produziu, quando produziu, quais interesses, porque produziu, onde produziu, discursos, narrativas e representações etc. são essenciais para o trabalho de qualquer professor/pesquisador. É dever moral e de ofício defender o estatuto epistemológico da história e seu compromisso com a verdade, com a objetividade, com a crítica e com rígidos métodos, procedimentos e técnicas de pesquisa.

 

O mundo digital e as práticas da cultura digital devem ser apropriadas pelos docentes como meios de preparar os estudantes para o mundo do trabalho, promoção da autonomia, formas de atuação social e desenvolvimento de redes sociais e éticas. Dessa feita, a prática de “curtir”, “seguir”, “compartilhar” e produzir conteúdos digitais não pode ser um processo aleatório, irresponsável ou que fira a ética e os direitos humanos. A escola do século XXI também tem o dever de orientar seus estudantes a como se posicionar, comportar e lidar com as tecnologias e mídias sociais.

 

Os memes não devem ser escolhidos de maneira aleatória, mas sim de forma a apresentar uma reflexão ou compreensão acerca de determinado tema. Memes não são uma “tábua de salvação” para o ensino de história, são apenas fontes que devem ser articuladas com outros documentos históricos, a exemplo de livros didáticos, músicas, imagens, filmes, etc. A partir dos memes, o aluno deve ser capaz de ler personagens, tempos, paisagens, textos, contextos, referências culturais, representações, símbolos, entre outras possibilidades que aguçam a curiosidade, criatividade e interesse pelo conhecimento.

 

Articular o meme à consciência histórica do aluno é um passo importante para diagnosticar saberes, níveis de aprendizado e noções históricas que estão superadas. O meme é apresentado, refletido e discutido de forma livre e coletiva sendo que, posteriormente, cabe ao professor apresentar outros recursos e materiais didáticos que aprofundem a compreensão do fato histórico em questão. Inicialmente discutida de forma descontraída e leve, a história passa a ser tratada por um viés crítico, compreendendo processos, tempos e espaços, conceitos, etc.

 

A nossa experiência com os memes foi desenvolvida durante aulas remotas no Colégio Estadual Antônio Carlos Magalhães, que está localizado em Tanhaçu, um pequeno município do sudoeste baiano. O Colégio oferece o ensino médio, atendendo alunos da zona rural e da zona urbana nos três turnos. No início de 2020, foram matriculados 477 alunos.

 

Em um contexto de pandemia provocado pelo coronavírus, as orientações foram dadas pelo “Google Meet” e pelos grupos de whatsApp. A ideia de um “Concurso de Memes” surgiu por ocasião da comemoração do Dia da Independência (07 de setembro) e da possibilidade de transformar uma data histórica em uma estratégia para promover a criatividade, entretenimento e interação dos alunos que estavam em isolamento social.

 

Os discentes tiveram liberdade para criar memes de acordo com sua a criatividade e conhecimento prévio. Neste sentido, tomamos como pressuposto as considerações de Marcos Silva quando salienta que “no lugar do meme como obra acabada, há seus elementos plásticos dispostos à manipulação, como campo de possibilidades capaz de garantir a emergência de significações livres e plurais” (PIMENTEL, 2019, p. 236).

 

Os alunos deveriam fazer um meme onde a famosa frase “Independência ou Morte” seria substituída por outra qualquer, desde que respeitasse os direitos humanos. As produções foram enviadas para o professor organizador que, por sua vez, as encaminhavam para os professores do próprio colégio que atuaram como jurados.

 

Antes da produção dos memes, divulgamos nos grupos de cada turma elementos sobre a Independência do Brasil. Abordamos alguns de seus personagens, motivos e conseqüências, a participação popular, a construção de mitos, a ideia de nação e nacionalismo, a permanência de certas estruturas sociais (como a escravidão e o latifúndio), algumas representações, símbolos e imagens da independência, principalmente o famoso quadro “Independência ou Morte”, de Pedro Américo, entre outros aspectos.  Problematizar a independência tornou-se uma tarefa importante para que os alunos não naturalizassem ou reproduzissem conteúdos e imagens sem uma análise crítica.

 

Durante uma semana, os alunos foram orientados a realizar pesquisas no objetivo de aprofundar seus conhecimentos sobre a Independência do Brasil. Neste período, foram realizados esclarecimentos sobre a dinâmica do concurso virtual e de alguns pontos que ele eles tinham dúvidas quando liam ou assistiam vídeos sobre o tema proposto.

 

Analisando a produção dos discentes, é importante salientar que nenhuma delas apresentou um discurso de ódio, intolerância ou preconceito. O contexto social, econômico, cultural, político e epidemiológico vivido pelos alunos foi amplamente abordado. As produções destacaram a inflação, o futebol, a corrupção, novelas, músicas, a escola, entretenimento e, principalmente, a pandemia. O campo de experiência, horizontes e possibilidades explorado pelos alunos abriu um leque para pensar como vivem e interpretam o mundo contemporâneo.

 

As “significações livres e plurais” propostas pelos memes estiveram dentro de um processo de ensino e aprendizagem que foi além de debater uma data histórica, mas abordou anseios, sentimentos, significados, vivências, angústias e ideias dos alunos. O meme construído pelos alunos estabeleceu conexões e diálogos com o momento vivido pelo mundo, pelo Brasil e por cada sujeito em sua individualidade e subjetividade.

 

Selecionamos dois memes que são representativas do universo social e cultural dos alunos. O primeiro diz respeito ao preço elevado do arroz que virou alvo de crítica e sátira em todo o país

 

Imagem 01

Fonte: Acervo do Autor

 

O dólar alto e o aumento da procura pelo arroz devido ao auxílio emergencial fez com que houvesse um aumento de 19,2% do preço do grão em 2020 (SALATI; RIKARDY, 2020), contribuindo para que houvesse uma pressão no custo de vida das famílias mais pobres, realidade essa vivida por muitos tanhaçuenses.

 

O meme reflete um posicionamento político do autor que se mostrou incomodado com a inflação em uma época de pandemia na qual milhões de trabalhadores perderam o emprego e a renda. Assim, o meme abre precedentes para se questionar o desenvolvimento do capitalismo no campo brasileiro ao transformar o valor, usos e finalidades da terra com a substituição de um atendimento voltado para as necessidades humanas para um atendimento que prioriza o lucro e a acumulação. Nesta nova dinâmica, a fruta, a verdura, o legume, o grão ou qualquer outro cultivo agrícola passam a ser mercadorias antes de serem alimentos que muitas vezes servem ao mercado internacional.

 

Se, em um primeiro momento, o meme pode parecer cômico ou engraçado, uma análise mais profunda revela que o autor usou de um recurso mimético para criticar a política econômica do país que não vinha atendendo aos interesses dos brasileiros e sim do “mercado”, assim como expor sua indignação diante das dificuldades em comprar alimentos considerados essenciais.

 

O meme seguinte trata da situação social e epidemiológica do país em um contexto de pandemia

 

Imagem 02:


Fonte: Acervo do Autor

 

O sete de setembro de 2020 é usado para uma nova declaração: “Quarentena ou morte”. Naquele mês, o Brasil já tinha perdido mais de 100 mil pessoas devido à doença e aparecia em segundo lugar como país com maior número de mortes (o primeiro era os Estados Unidos). As regras e campanhas para manter o distanciamento social, uso de máscara e álcool em geral não eram seguidas por muitas pessoas, o que contribuía para agravar a situação epidemiológica.

 

Adolescentes e jovens tiveram suas emoções e comportamentos alterados devido à necessidade de permanecer em casa. Preocupações, nervosismo, irritabilidade, ansiedade e mau-humor foram sentimentos comuns em 48.7% dos adolescentes brasileiros, sendo que esse percentual sobe para 61,6% quando se considera apenas as meninas (AGÊNCIA BRASIL, 2020). O fim da pandemia significa a retomada de sonhos e projetos, o fim do horror e da morte exibidos cotidianamente nos meios de comunicação e mídias sociais, um pensamento que pode se voltar para o futuro e não apenas para o presente. Significa, ainda, a possibilidade de poder abraçar parentes e amigos, estudar, trabalhar, andar, festar, socializar, brincar, etc.

 

O processo de ler e produzir um meme revela resistências e aceitações do sujeito produtor, seus valores, atitudes, posicionamentos, leitura e compreensão do mundo social. A análise intertextual do meme (articulação de imagem, paisagem, personagens e texto) revela uma analogia e relação entre passado e presente, processos antigos e contemporâneos. Se antes a declaração era de independência, o grito de 2020, feito pela ciência e pelos profissionais de saúde, estava voltado para a necessidade de prevenção e distanciamento social. Neste sentido, autores salientam que “memes são capazes de “problematizar questões ligadas à dimensão social e histórica, transformando a leitura em uma atividade constitutiva de sujeitos capazes de estabelecer relações com o mundo e nele atuar como cidadãos.” (Ferreira, 2019, p.131).

 

Ao ser socializado em diversas redes sociais, o meme em questão também cumpre um papel de educar e conscientizar um grande número de pessoas para a dimensão e tragédia em curso no Brasil e no mundo. A produção de memes revela subjetividades e processos de identificação que, ao serem compartilhados por outras pessoas, revelam uma rede de intenções e interações que permeiam o mundo virtual e o mundo real.

 

Esse caráter multifacetado dos memes indica seu potencial para o ensino e pesquisa de história por abarcar diversas esferas da vida contemporânea, criar uma relação entre aluno e professor, interação entre diversos sujeitos sociais, população do saber acadêmico, além de confrontar experiências, identidades e comportamentos diversos. O mundo digital se apresenta como um campo de múltiplas aprendizagens, sendo que, neste caso, os alunos aparecem, também, como sujeitos que podem produzir e compartilhar conteúdos.

 

A relação passado-presente e presente-passado foi explorada dentro de uma dinâmica na qual a história transformou-se em uma disciplina lúdica e divertida, mas sem perder de vista sua função social e seu estatuto epistemológico. Os gritos na atualidade são muitos e feitos de diferentes formas, lugares, circunstâncias e intensidade. Grita-se pela descolonização dos saberes, pela independência econômica, pela dignidade humana, pela volta às aulas, pelo fim da corrupção, por oportunidades, pelo respeito ao próximo, pela justiça social, etc.

 

O uso da linguagem (memes) contribui para assegurar a autoria e autonomia, a interação crítica e a criativa dos discentes, ao produzir representações históricas que manifestam o exercício de uma educação cidadã para o existir em uma sociedade democrática. Ressaltamos que não se trata de pensar os memes como “tábua de salvação” para o ensino de história, mas sim de compreendê-los como um gênero que, planejado e articulado com outras linguagens, abre um campo de possibilidades didáticas e pedagógicas em relação à fabricação de novos conhecimentos históricos.

 

Considerações finais

Na contemporaneidade, não podemos falar em conhecimento, mas em conhecimentos. No plural, significa existem saberes diversos, assim como são múltiplas as formas de apreendê-los e aprendê-los. Muitas vezes, o aluno tem uma noção ou uma ideia prévia do tema a ser discutido em sala de aula. Documentários, filmes, séries, redes sociais, etc. são algumas das ferramentas utilizadas para aquisição de conhecimentos. Ou seja, o processo de ensino e aprendizagem no século XXI não passa apenas pela leitura e pelos livros, ainda que esses meios sejam essenciais e jamais podem ser considerados ultrapassados.

 

O uso sem nenhum critério, seleção ou planejamento do meme traz o risco de torná-lo uma mera ilustração e linguagem sem significado crítico e contextualizado por parte dos alunos. O trabalho de analisar, contextualizar, relacionar, criticar, comparar e compreender faz parte de uma “operação historiográfica” que deve nortear o trabalho com qualquer fonte no processo de ensino e pesquisa na área de história.

 

A experiência com o uso dos memes no Colégio Estadual Antônio Carlos Magalhães mostrou que sua produção pelos alunos esteve intimamente relacionado ao momento social, político, cultural e epidemiológico do país. Por intermédio do gênero, foi possível observar parte do universo vivido pelos estudantes, como vivem e interpretam a realidade, alguns de seus anseios, desejos, angústias, comportamentos e identidades. A compreensão da realidade dos alunos é um passo importante na busca de práticas e intervenções pedagógicas que promovam a formação humana e ética dos indivíduos, para além de sua formação cognitiva, profissional e acadêmica.

 

De nada adianta o aluno aprender tudo sobre guerras mundiais, feudalismo, ditaduras, escravidão, etc. se não lhe for ensinado a aplicação de conceitos como direitos humanos, empatia, cidadania, respeito e resiliência em sua vida cotidiana. Pensar a educação no século XXI, e especificamente o ensino de história, significa pensar em novos métodos, ideias, recursos, ferramentas e projetos capazes de satisfazer as necessidades de um mundo dinâmico, flexível e plural.

 

Referências bibliográficas

Auricharme Cardoso de Moura. Doutor em História pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Professor da Rede Estadual de Ensino em Tanhaçua/BA.

 

Referências bibliográficas

AGÊNCIA BRASIL. Jovens relatam mudança de rotina e de humor em estudo sobre pandemia. Disponível em: << https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2020-12/jovens-relatam-mudancas-de-rotina-e-de-humor-em-estudo-sobre-pandemia>> Acesso em fevereiro de 2021.

 

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.

 

CADENA, Sílvio Ricardo Gouveia. Novos objetos para o ensino de história: os memes na sala de aula. In: Anais do XII Encontro Estadual de História da ANPUH/Pernambuco. Recife: ANPUH, 2008.

 

FERREIRA, Helena Maria et al. Memes em sala de aula: possibilidades para a leitura das múltiplas semioses. In: Revista Periferia: Educação, Cultura e Comunicação. Rio de Janeiro: Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 2019, p.131.

 

PIMENTEL, Mariano. Meme, Educação e Interatividade: Entrevista com Marcos Silva. In: Revista Periferia: Educação, Cultura e Comunicação. Rio de Janeiro: Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 2019.

 

SALATI, Paula; TOOGE, RIKARDY. Arroz e óleo mais caros: entenda porque a inflação dos alimentos disparou no país. Disponível em << https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2020/09/09/arroz-e-oleo-mais-caros-entenda-por-que-a-inflacao-dos-alimentos-disparou-no-pais.ghtml>> Acesso em 22 de fevereiro de 2021.

22 comentários:

  1. O fato de ter mais ferramentas que auxiliam os professores em sala de aula se torna muito benéfico, mas o fato do meme ser socializado em diversas redes sociais pode acabar ocasionando o uso de Fake News, além disso haveria alguma outra problematização em fazer o uso de memes na didática escolar?
    Leandro Gabriel Rocha Da Silveira

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    1. Oi, Leandro. Para superar as fake news, os professores precisam superar a mera transmissão de conteúdos. Os memes não devem ser reproduzidos como meras ilustrações ou representações sem uma análise crítica, contextualizada, autoral e colaborativa com outras fontes históricas. Essa é uma tarefa a ser construída de forma cotidiana na sala de aula e que envolve professores e alunos. Compreender os memes como simples ilustração da realidade, como ponto de chegada ou, ainda, de forma isolada, descontextualizada e sem diálogo com outras fontes e recursos didáticos transforma o seu uso em uma experiência didática inócua e ineficiente.Atte, Auricharme Cardoso de Moura

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  2. Que outras temáticas caberiam o uso de memes, assim como foi utilizado para o ensino sobre o período da independência? Gostaria também de perguntar como não cair nas armadilhas do anacronismo , pelo fato do meme ser uma linguagem contemporânea e não estar relacionada aquele período histórico ?
    Diógenes Mendes Calado

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    1. Olá, Diógenes. Em vários sites e redes sociais você percebe que os memes são usados em diversos contextos históricos, envolvendo múltiplas temáticas, fatos, personagens, narrativas e paisagens. História no Paint, por exemplo, usa memes quanto trata da Idade Média, Ditadura Militar, Renascimento, Iluminismo, Brasil Colônia, Império e República, etc. As possibilidades são imensas. No Museu dos Memes é possível encontrar diversas produções acadêmicas sobre o uso dos memes em diversos tempos, circunstâncias e espaços. O meme histórico é produzido socialmente e carrega consigo diversos significados que são compartilhados por um amplo público. É importante que o professor trabalhe e problematize a questão do anacronismo. Os alunos devem compreender que os memes não carregam consigo a realidade, que os memes são leituras de certos grupos, indivíduos e fatos históricos. Analogias e comparações são comumente usadas em sala de aula, mas o aluno não deve cair no anacronismo. O professor deve mostrar as semelhanças, mas também as diferenças entre distintos tempos históricos. Atte, Auricharme Cardoso de Moura.

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  3. Parabéns pelo belo trabalho e pela atividade desenvolvida em sala de aula virtual!
    Tendo em vista a multiplicidade de resultados que acredito foram obtidos, gostaria de saber como isso foi trabalhado, após o encaminhamento dos memes pelos alunos. Por isso gostaria de saber um pouco mais se eles tiveram oportunidade de comentar, detalhar o processo criativo, as motivações para a escolha de um tema específico a abordar. Grato!
    Marco Antonio Stancik

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    1. Olá, Marcos. Grato pelo elogio. Em cada sala de aula virtual, falamos sobre o projeto de forma ampla e democrática, o que significa dizer que ouvimos os alunos antes, durante e após a elaboração dos memes. Seja em tom jocoso, irônico ou como crítica social e política, discutimos sobre a possibilidade do meme ser um momento em que cada pessoa poderia expor seus desejos, demandas, necessidades, expectativas, horizontes e experiências. Após a realização do trabalho, fizemos um “feedback” com os alunos, ouvindo a avaliação e as considerações de cada um deles, seja sobre a elaboração do meme (experiência individual) ou sobre avaliação do meme como uma ferramenta para facilitar o processo de ensino e aprendizagem (uma avaliação mais ampla). Atte, Auricharme Cardoso de Moura

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  4. Marco Antonio Stancik26 de maio de 2021 às 10:51

    Outro aspecto que gostaria que fosse detalhado, se possível, diz respeito ao cuidado com a articulação passado-presente. Isso tendo em vista que memes, assim como charges, etc., tendem a explorar aspectos da atualidade, ao passo que a imagem que serviu de base para a produção remete a eventos que remetem ao início do século XIX.
    Marco Antonio Stancik

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    1. O anacronismo se fez presente no projeto de criação dos memes. A mim, enquanto professor,coube a missão de problematizar as produções dos alunos e evidenciar que o meme não carrega consigo a realidade. No meme, a leitura da história foi feita de forma subjetiva segundo conhecimentos e experiências de cada aluno. Como professor e historiador, procurei defender a objetividade e o estatuto científico da história explorando autores e outras fontes que trabalham versões diferentes sobre o fato em questão. O meme sobre a independência tornou-se um ponto de partida para discutir o contexto social, político, econômico e epidemiológico do país. Mas, antes de discutir o presente, várias explicações (com o uso de diversas forntes históricas) foram realizadas sobre os significados, representações e contexto social e político da proclamação da independência. Mostramos as semelhanças, mas também as diferenças entre o Brasil do século XIX e o Brasil do século XXI. Atte, Auricharme Cardoso de Moura

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  5. Artigo muito legal, seu texto me fez relembrar a famosa "primeira guerra memeal" que ocorreu entre Brasil e Portugal na rede social twitter no ano de 2015, onde o Brasil saiu vitorioso por criar os melhores memes, esse será um período da história brasileira que renderá muitos trabalhos incríveis. Como pode se fazer a criação de memes em relação a história, sem introduzir de fato personagens históricos?

    Gabriela Farias Oliveira

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    1. Olá, Gabriela. Gosto de introduzir personagens históricos, sempre respeitando os direitos humanos e combatendo toda intolerância e discurso de ódio. É uma forma de se popularizar a história e tentar ensinar os jovens do presente como experiências de personagens históricos devem ser multiplicados ou combatidos. Podemos citar acontecimentos, processos e mediações na história por intermédio de frases, paisagens e cenários diversos (o que não abordaria diretamente qualquer personagem histórico). Mas se tomarmos como fato que o povo também é sujeito e personagem da história, sempre teremos que abordar de forma direta ou indireta personagens históricos. Como diz Marc Bloch “a história é a ciência que estuda o homem e sua ação no tempo”. Seja patrício ou plebeu, rei ou escravo, sempre abordamos algum personagem histórico em nossos trabalhos com memes. Atte, Auricharme Cardoso de Moura

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  6. Parabéns pelo trabalho! Sem dúvidas, bastante pertinente a abordagem em relação ao contexto atual.
    Na escola em questão, o "concurso de memes" sobre a independência do Brasil, refletiu uma abordagem recorrente por parte dos alunos de mazelas em que sofre o país, como a inflação e a corrupção; o contexto pandêmico, abordado amplamente no meio jornalístico, além de entreterimentos comuns entre o público mais jovem: novelas, músicas e o futebol.
    Com o registro desses memes, e de outros encontrados nas redes sociais, a sua análise e pesquisa posteriormente poderiam ser uma fonte histórica confiável na compreensão e do sentimento que predominou no país e no mundo em tempos de pandemia e isolamento social?

    Lucas Santiago Celestino da Cruz

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    1. Olá, Lucas. Se tomarmos como base a multiplicidade de fontes usadas pelos historiadores na contemporaneidade, os memes produzidos pelos alunos podem ser usadas como um registro histórico. Contudo, somente se torna uma fonte confiável a partir de uma abordagem objetiva e científica, o que significa, entre outras coisas, que a operação historiográfica seja realizada. Assim, os memes não devem ser utilizados de forma isolada ou a partir de uma noção de verdade. Se analisado, criticado, contextualizado, comparado e abordado junto com outros documentos históricos, os memes podem oferecer uma interpretação histórica sobre o contexto social, político, econômico e epidemiológico vivido pelo Brasil em tempos de pandemia provocada pelo Covid-19. Atte, Auricharme Cardoso de Moura

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  7. Bom dia, o tema é muito interessante. Eu queria saber sobre como usar os memes sem necessariamente fugir do rigor teórico, pois vejo que há muita produção de memes que trazem consigo um caráter mais cômico, que foge um pouco do real interesse crítico. Como apropriar-se disso?

    EDUARDA OLIVEIRA SILVA - UFRN

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    1. Olá, Eduarda. O uso sem nenhum critério, seleção ou planejamento do meme traz o risco de torná-lo uma mera ilustração e linguagem sem significado crítico e contextualizado por parte dos alunos. O trabalho de analisar, contextualizar, relacionar, criticar, comparar e compreender faz parte de uma “operação historiográfica” que deve nortear o trabalho com qualquer fonte no processo de ensino e pesquisa na área de história. Perguntas como quem produziu, quando produziu, quais interesses, porque produziu, onde produziu, discursos, narrativas e representações, etc. são essenciais para o trabalho de qualquer professor/pesquisador. É dever moral e de ofício defender o estatuto epistemológico da história e seu compromisso com a verdade, com a objetividade, com a crítica e com rígidos métodos, procedimentos e técnicas de pesquisa. Atte, Auricharme Cardoso de Moura

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  8. Adorei o seu artigo e os memes dos alunos. Estão de parabéns!
    Minha pergunta é, como foi o feedback dos alunos em relação a utilização de tdci para o aprendizado e a criação de um, envolvendo um importante momento da história nacional?

    Aline Thais Sousa Iashinishi

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    1. Olá, Aline. O retorno dos alunos foi super positivo. Eles ficaram felizes com o uso de novas linguagens e ferramentas no processo de ensino e aprendizagem na disciplina de história. Destaco, ainda, o fato de eles serem criadores de conteúdos, de produzirem conhecimentos ao invés de simplesmente reproduzirem o que está nos livros didáticos. Por fim, foi notória a satisfação de cada aluno e aluna em usar o meme como forma de se expressar, de mostrar o que estão sentindo em um momento tão complicado, desafiador e adverso. Assim, os memes foram usados como uma linguagem crítica, irônica, mordaz, polêmica, divertida e reflexiva. Atte, Auricharme Cardoso de Moura

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  9. Parabéns pelo artigo, toda a análise e proposta são muito importantes, principalmente para o nosso atual cenário.
    Desse modo, eu gostaria de saber se os estudantes apresentavam um conhecimento prévio que incluísse a compreensão do meme como construção histórica? E além deste aspecto, eles identificavam que o algo que é tão utilizado no cotidiano para o humor, poderia ter uma aplicação dentro dos estudos?
    Desde já, muito obrigada, parabéns pelo artigo.

    Ana Carolina Alves Tibúrcio

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    1. Olá, Ana. Os alunos tinham um conhecimento muito raso sobre a independência, a maioria não sabia os significados, representações, invenções e personagens envolvidos no 07 de setembro. Assim, primeiramente, utilizamos algumas aulas para explicar sobre o processo histórico-social em questão. Inicialmente, os alunos não imaginavam que os memes poderiam ser utilizados como uma linguagem a ser explorada em sala de aula. A maioria fazia ou reproduzia memes apenas como lazer e entretenimento. Após explicações, foi mostrado como os memes podem ser explorados como uma linguagem aliada ao processo de ensino e aprendizagem na área de história. Muitos alunos passaram a “curtir” e “seguir” perfis e páginas em redes sociais que abordam temas históricos a partir dos memes, com destaque para o “História no Paint”. Assim, os memes foram usados como ponto de partida para despertar a curiosidade e a criticidade dos alunos. Acreditamos que o trabalho teve êxito. Atte, Auricharme Cardoso de Moura.

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  10. Boa noite, Auricharme!! Parabéns pelo texto e obrigada por compartilhar a experiência. Gostaria de saber como foi a receptividade da proposta pelos alunos e quais aspectos da aprendizagem histórica podem ser destacados no desenvolvimento das atividades?

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    1. Olá, Thaís. Toda novidade é estranha para certos públicos. Quando falei de memes e ensino de história, a surpresa foi geral. Inicialmente, os alunos não imaginavam que os memes poderiam ser utilizados como uma linguagem a ser explorada no processo de ensino e aprendizagem. A maioria fazia ou reproduzia memes apenas como lazer e entretenimento. Os aspectos a serem destacados na aprendizagem histórica são a crítica, a contextualização de tempos e espaços diferentes, a curiosidade, a criatividade e a criação de conteúdos. Atte, Auricharme Cardoso de Moura

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  11. Olá, Thaís. Toda novidade é estranha para certos públicos. Quando falei de memes e ensino de história, a surpresa foi geral. Inicialmente, os alunos não imaginavam que os memes poderiam ser utilizados como uma linguagem a ser explorada no processo de ensino e aprendizagem. A maioria fazia ou reproduzia memes apenas como lazer e entretenimento. Os aspectos a serem destacados na aprendizagem histórica são a crítica, a contextualização de tempos e espaços diferentes, a curiosidade, a criatividade e a criação de conteúdos. Atte, Auricharme Cardoso de Moura

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