A VIRTUALIZAÇÃO DO LABORATÓRIO DE ENSINO DE HISTÓRIA E ESTÁGIO
SUPERVISIONADO (LEHES)
O Laboratório de Ensino de História e Estágio Supervisionado (LEHES): Breve
Histórico
O curso de licenciatura em
História da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) foi criado em 2009
e conjuntamente seu laboratório de ensino. Inicialmente, a proposta era apenas
um laboratório de Educação para todos os cursos de licenciatura, com um espaço
comum. Mas, com a criação dos Departamentos a proposta não vingou e ficou
definido que cada curso teria seu próprio laboratório. A Universidade alugou
uma casa, chamada “Casa Terra”, que foi o primeiro espaço físico do Laboratório
de Ensino e Estágio Supervisionado. Além de uma sala do Laboratório, a “Casa
Terra” também contemplava outros laboratórios de cursos variados. No primeiro
momento, era um quarto com um armário e nada mais. Aos poucos, o espaço começou
a se estruturar com doações e solicitações à Universidade. Assim, com o
envolvimento do corpo docente e discente do curso, o LEHES estruturou-se ao
longo do tempo.
A partir de 2019 o espaço
físico passou para outro local, o Centro Educacional, onde funciona o curso de
História. Agora é uma sala compartilhada com os Laboratórios de Ensino do curso
de Letras, Geografia e Serviço Social que conta com um espaço específico do
LEHES, espaços compartilhados para guarda de materiais didáticos e um espaço de
reunião e estudos. Após a transferência do espaço, foi realizada uma
catalogação do material didático do laboratório com apoio dos monitores das
disciplinas de Estágio Supervisionado e surgiu a necessidade de um espaço
virtual para a divulgação do acervo e das atividades desenvolvidas. Trataremos
nesse trabalho sobre o processo inicial de virtualização do Laboratório de Ensino
de História e Estágio Supervisionado, resultado do desenvolvimento de projeto
de extensão.
O LEHES e sua Virtualização: aspectos teóricos
O Laboratório de Ensino de História e Estágio Supervisionado, segundo
seu regulamento, apresenta entre seus objetivos: “Desenvolver e apoiar
atividades de ensino, pesquisa e extensão relacionados à Educação Básica, à
área de Didática da História, Ensino de História e Estágios Curriculares
Supervisionados” (UFTM). Para atender seus objetivos mostra-se fundamental
ampliar sua comunicação com a comunidade acadêmica, mas também uma conexão com
a comunidade externa. Assim, a criação de um espaço virtual serviu como
mecanismo de integração universidade-comunidade virtual.
Como nos apresentam Rafael Dias de Castro e Iara de Oliveira Maia,
responsáveis pelo Laboratório de Ensino de História, da UNIMONTES:
“Diversas instituições, em diferentes estados, oferecem ambientes
virtuais de apresentação de seus laboratórios, espaços (virtual e físico),
propostas e organização, tais como, por exemplo, os Laboratórios de Ensino de
História da: Universidade Estadual de Londrina [UEL], Universidade Federal de
Uberlândia [UFU], Fundação Getúlio Vargas [FCV/CPDOC], Universidade de São
Paulo [USP], Universidade Federal do Recôncavo Baiano [UFRB], Universidade
Federal de Goiás [UFG], Universidade Federal do Ceará [UFC], Universidade
Federal do Rio Grande do Sul [UFRGS], dentre tantas outras” (CASTRO & MAIA,
2020).
O LEHES vem somar a esses outros laboratórios enquanto espaço de
exposição e discussões relacionadas às questões teóricas e práticas que
envolvem o ofício do professor-historiador. O
atual contexto de pandemia também reforçou essa necessidade do LEHES ser
igualmente um espaço virtual.
As ações e materiais desenvolvidos em algumas disciplinas vinculadas ao
LEHES já contavam com um espaço de divulgação. Um exemplo seria o canal no youtube ‘Didática da História’. O canal
é desenvolvido pelos alunos da disciplina Didática da História, do curso de
História, em que os mesmos produzem vídeos e podcasts sobre variados temas relacionados à História. Tendo como
objetivo a difusão do conhecimento histórico, o canal traz discussões
acessíveis a toda comunidade, sem perder, contudo, a essência da ciência
histórica.
(Link: https://www.youtube.com/channel/UCIq32NXP23W1e4RLiP2BjfA/
featured).
Optou-se como ambiente virtual o blog. O blog, que recebeu o nome de
Portal LEHES, apresenta-se como um canal de comunicação com a comunidade acadêmica
como também egressos do curso e professores da rede básica de ensino de
Uberaba. Esse projeto promove à sociedade as ações de pesquisa, ensino e
extensão na área de ensino de História buscando contribuir para desenvolver e
ampliar a relação universidade-sociedade.
(Link: https://lehesuftm2020.wixsite.com/portallehes)
A formação dos professores de História contou ao longo do tempo de
Laboratórios de Ensino de História (LEH) nas Instituições de Ensino Superior
(IES) públicas. Marin coloca que esses ambientes se constituíram a partir da
década de 1980 para servirem como conexão entre os docentes do ensino superior,
do fundamental e médio e os acadêmicos em formação e foram fundamentais para
que “repensassem e debatessem questões sobre o significado de ensinar e de
aprender história” (MARIN, 2015, p. 508).
O LEHES, enquanto espaço que congrega ensino, pesquisa e extensão,
constitui um ambiente privilegiado para aproveitar as possibilidades do mundo
virtual. Atualmente, as mídias correspondem ambientes importantes para conectar
a comunidade acadêmica-científica com a comunidade virtual. Segundo Levy:
“Interconexão geral, comunidades virtuais e inteligência coletiva são aspectos
de um universal por contato, um universal que cresce como uma população, que
faz crescer aqui e ali seus filamentos, um universal que se expande como a
hera” (LEVY, 1999, p. 133).
A experiência com mídias sociais já se faz presente no curso de
História. Conforme Cláudia Bovo:
“usamos a carga horária da PCC para orientar/tutoriar os estudantes na
produção de conteúdos para diferentes plataformas de mídias sociais (canais de
YouTube, páginas de Facebook, perfis no Instagram, perfis no Twitter e blogs),
com foco exclusivo nos temas relacionados aos debates historiográficos
propostos pela disciplina obrigatória ministrada, no caso História Medieval”
(BOVO & PINHEIRO, 2019, p. 129).
Assim, a perspectiva do uso de mídias no ensino de História já estava em
ação no curso e o projeto de virtualização do LEHES possibilitou agregar nessas
ações. O objetivo foi construir um apoio virtual para as atividades do LEHES
com a criação de um blog. Amaral, Reuero e Montardo identificam várias
definições para blogs. A partir de várias pesquisas relacionam três opções
conceituais: concepção estrutural, funcional e artefato cultural. Segundo as
autoras:
“Essas três opções conceituais auxiliam-nos a compreender como os
weblogs são, atualmente, compreendidos pela literatura especializada. Como
artefatos culturais, eles são apropriados pelos usuários e constituídos através
de marcações e motivações. Além disso, perceber os blogs como artefatos indica
sua também a sua percepção como virtual
settlement (JONES, 1997), uma vez que são eles o repositório das marcações
culturais de determinados grupos e populações no ciberespaço, nas quais é
possível, também, recuperar seus traçados culturais. Como meios de comunicação,
os weblogs são compreendidos através de sua função comunicativa e dos elementos
que dela decorrem. (...) A percepção dos blogs como espaços de sociabilidade,
como constituintes de redes sociais está presente nesta vertente. Blogs como
meios de comunicação implicam também sua visibilidade enquanto meios de
práticas jornalísticas, seja através de relatos opinativos, seja através de
relatos informativos. O conceito estrutural, por outro lado, permite apreender-se
o blog enquanto formato, abrindo-se para múltiplos usos e apropriações” (AMARA,
RECUERO & MONTARDO, 2008).
A partir dessas conceituações pode-se perceber o potencial dos blogs
enquanto “suportes para a comunicação mediada por computador, ou seja, permite
a socialização on-line de acordo com os mais variados interesses” (AMARA,
RECUERO & MONTARDO, 2008). O blog, ferramenta para a virtualização do LEHES,
apoiou a interlocução do LEHES com a comunidade virtual. Dessa forma, a
virtualização criou “espaços móveis, que podem ser acessados e constituídos
independente do espaço físico e que podem, ainda, auxiliar nas reconstruções
desses espaços” (AMARA, RECUERO & MONTARDO, 2008). Assim, é uma via de mão
dupla, o Laboratório apresenta no blog suas ações e seu espaço, mas também pode
receber contribuições para o desenvolvimento de suas atividades.
A Virtualização de um Laboratório de Ensino: o caso do LEHES
O Laboratório de Ensino de
História e Estágio Supervisionado (LEHES) “é um espaço de integração entre ensino, pesquisa e
extensão, destinado ao desenvolvimento do Curso de Licenciatura em História”
(UFTM, 2019). Conta com espaço físico onde “mantem acervo bibliográfico para o
desenvolvimento de pesquisas e atividades práticas acadêmicas relacionadas às
disciplinas do curso de Licenciatura em História e a documentação referente às
disciplinas Orientação e Estágio Curricular Supervisionado” (UFTM, 2019). Em
agosto de 2020 iniciou-se o desenvolvimento do projeto de extensão “Laboratório de Ensino de História e Estágio Supervisionado
(LEHES) e o espaço virtual” que contemplou a criação, manutenção e atualização
de um espaço virtual para esse laboratório. O espaço escolhido foi o blog que passou
a funcionar como um canal de comunicação com a comunidade virtual interessada
nas questões relacionadas ao ensino de História, como discentes e egressos do
curso de História-UFTM e de outras instituições; além de professores da
Educação Básica e outros interessados.
O projeto se desenvolveu
com as seguintes etapas:
1.
Reuniões de estudo e planejamento para
execução das ações do projeto: esse momento contou com bibliografia específica
para discussão entre os participantes e forneceu subsídios para a estruturação
das atividades;
2.
Seleção, preparação e correção das postagens
do blog: a partir da escolha das postagens e apoiados na base
teórica-metodológica sobre o uso de blogs os(as) discentes voluntários(as)
partiram para a escrita e correção dos textos que foram compondo as postagens;
3.
Divulgação das postagens realizadas: logo que
as postagens foram inseridas foi imprescindível a divulgação nos e-mails do
curso de História e do IELACHS, canais institucionais de comunicação, além de
páginas de outras redes sociais do curso;
4.
Avaliações periódicas e final sobre o
andamento do projeto.
Como primeira ação ocorreu
a escolha de um logo para o blog através de uma enquete nas redes sociais do
curso (facebook e instagram). Dessa forma, iniciamos com pesquisa para a
comunidade acadêmica de escolha de duas propostas para o design virtual do
LEHES realizadas pela equipe discente vinculada à extensão. A iniciativa
inicial além de criar a identidade visual do laboratório buscou também criar um
envolvimento como o espaço virtual a ser criado.
Após a criação do blog
iniciaram as primeiras postagens. O projeto contou com uma equipe de quatro
discentes e duas coordenadoras docentes. A estrutura adotada foi a divisão do
tripé: ensino, pesquisa e extensão; além de ícone com o acervo e divulgação de
eventos e editais.
As primeiras postagens
procuraram situar os três pilares do Laboratório: “O Ensino de História e o
curso de História-UFTM”, “A Pesquisa e o Curso de História-UFTM”, “LEHES e o
compromisso com a extensão”. Depois partimos para a apresentação do Acervo do
Laboratório: “O LEHES e a construção constante de um acervo”. Entre outras postagens
estavam: regulamento do LEHES e lista de livros didáticos que fazem parte do
laboratório e a divulgação das ações, eventos e atividades desenvolvidas pelo
Laboratório, curso de História-UFTM e também de outras instituições que
possibilitem o aprofundamento nas reflexões relacionadas à área.
Uma postagem comentou
sobre a Coleção “As várias faces da pandemia”. Essa coleção integra lives do
Canal Oráculo da História (https://www.youtube. com/channel/UCYXcueUaz7P8WLCVHgy3gGQ),
canal desenvolvido pelo curso no período da pandemia; Fotografia e História
Pública, resultado de uma disciplina eletiva do curso (https://www.instagram.com/
historiapublicaefotografia/?igshid=13xtlp9lit3f6) e a pesquisa de opinião
“Narrativa do ensino de História na Pandemia”. Além do aspecto relacionado ao
ensino de História no contexto da pandemia de Covid-19, a pesquisa de opinião
mostrou-se como um espaço de integração com a comunidade virtual. A equipe
discente fez um mapeamento de diversas instituições de ensino para a divulgação
da pesquisa e também do Portal. Considerando os indicadores digitais, o Portal
apresentou aproximadamente 1400 visualizações, com uma média variada para cada
publicação.
Considerações Finais
O projeto representou uma
iniciativa de ampliar as ações do LEHES com a criação de um espaço virtual para
possibilitar o envolvimento com as atividades e o acervo pelos nossos alunos e
público interessado em geral. As ações e produção do LEHES são constantes, pois
relaciona-se com a parte prática do curso (Estágios Supervisionados e PCC das
disciplinas obrigatórias). Mostra-se a necessidade de ambiente virtual que
compartilhe essas produções e ações.
Nesse sentido, o ambiente
virtual do blog constituiu num espaço de integração entre as atividades
docentes, discentes e da comunidade em geral, visando um diálogo com os
diferentes atores interessados nas temáticas do Ensino de História. Além disso,
promoveu o desenvolvimento de habilidades para atuação com TICs entre os(as)
futuros(as) professores de História.
O projeto relaciona o
tripé da Universidade Pública, ensino, pesquisa e extensão. Seu objetivo
específico é produzir e dialogar com a perspectiva do Ensino de História. Dessa
forma, a virtualização buscou divulgar as produções acadêmicas ou recursos
disponíveis nesse espaço para o ofício do professor-historiador, além de criar
um espaço interacionista com a comunidade virtual.
Referências biográficas
Dra. Anelise Martineli
Borges de Oliveira, docente do curso de História da UFTM.
Dra. Ilana Peliciari
Rocha, docente do curso de História da UFTM.
Bibliografia
AMARAL, A. RECUERO, R. MONTARDO, S. P. Blogs: mapeando um objeto. VI
Congresso Nacional de História da Mídia, UFF, 13 a 16 de maio de 2008
(Disponível em: http://www.ufrgs.br/alcar/encontros-nacionais-1/encontros-nacionais/6o-encontro-2008-1/Blogs%20Mapeando%20um%20objeto.pdf
– Acesso em 24/04/2020).
BOVO, C. PINHEIRO, M. S. História pública e virtualidade: experiências
de aprendizagem híbrida no ensino de História. Revista História Hoje, v. 8,
n.16, p. 113-134, 2019.
CASTRO, Rafael Dias de. MAIA, Iara de Oliveira. Entre ensino, pesquisa e
extensão: propostas para um laboratório de ensino de História. 6º Simpósio
Eletrônico Internacional de Ensino de História, 18-22 de maio, 2020 (Disponível
em: https://simpohis2020aprendizagem.blogspot.com/p/entre-ensino-pesquisa-e-extensao.html
- Acesso em: 17/05/2020).
LEVY, P. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999.
MARIN, Marilú Favarin. A relação teoria e prática na formação de
professores de História: a experiência de laboratórios de ensino de História. Revista
Educação, Santa Maria, v. 40, p. 503-516, set./dez. 2015.
Portal LEHES - Laboratório de Ensino de História e Estágio
Supervisionado. (Disponível em: https://lehesuftm2020.wixsite.com/portallehes
- Acesso em: 19/03/2021).
UFTM, Regulamento do
Laboratório de Ensino de História e Estágio Supervisionado, curso de História, 2019.
Olá! Muito interessante a iniciativa do projeto - A Virtualização de um Laboratório de Ensino, e muito favorável apresentar recursos didáticos para abordar o ensino de história. Gostaria de saber como esse projeto tem contribuído para o exercício docente e o diálogo sobre o ensino de história, nesse contexto de pandemia, uma realidade que tem provocado a emergência no contato com as tecnologias, pelos professores e alunos, e ao mesmo tempo, evidenciado inseguranças ao ter que desenvolver o trabalho docente, tendo como suporte as plataformas digitais.
ResponderExcluirLorena Michelle Silva dos Santos
Prezada Lorena Santos,
ExcluirAgradecemos a leitura do texto e questionamento. O projeto procura incentivar os futuros docentes na utilização da TICs e, além disso, disponibiliza materiais digitais que podem auxiliar os docentes tanto nas condições de ensino remoto quanto nas aulas presenciais. O trabalho iniciou-se no segundo semestre e procurou uma interlocução com a comunidade escolar através da pesquisa Narrativas de Ensino na Pandemia que evidenciou as dificuldades e possibilidades desse contexto educacional. Além disso, percebemos um amplo interesse por parte de docentes em participar de eventos organizados pelo curso. Anelise Martinelli e Ilana Peliciari
Primeiramente, parabéns pelo texto, bem como pelo trabalho do grupo em ambiente virtual. Já acompanho as atividades do LEHES há um tempo (mas desconhecia a “Casa Terra”) e vejo a importância de continuação dele na UFTM. Nesse sentido, meu questionamento/comentário/sugestão é: Existe uma possível abertura do LEHES, buscando integração com outros laboratórios da universidade, principalmente da licenciatura, tendo em vista uma interdisciplinaridade?
ResponderExcluirMateus Delalibera
Prezado Mateus, olá!
ExcluirAgradecemos pela leitura do texto e pela pergunta. De fato, a questão do diálogo entre os laboratórios dos cursos de licenciatura da UFTM se faz fundamental, tendo em vista promover reflexões e debates para além dos ambientes específicos de atuação. A equipe do projeto de extensão tem intenção de desenvolver futuramente ações com outros laboratórios da instituição, com relação a discussões inerentes ao “ser professor”, como por exemplo, grupos de estudo, palestras, oficinas, mesas-redondas e outros tipos de atividades.
Atenciosamente,
Anelise Martinelli e Ilana Peliciari