Priscielli do Carmo Rozo Cerdeira da Rosa e Ronualdo da Silva Gualiume

 

FÓRUM DE DIÁLOGO: UMA POSSIBILIDADE DE APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA NAS AULAS DE HISTÓRIA

 

 

A disciplina de história tem a missão de estimular a criticidade na formação de crianças e jovens em todas as fases da educação básica. Além disso, a história tem como objetivo fundamental proporcionar a reflexão em torno das perspectivas políticas, econômicas, sociais e culturais com o intuito de oportunizar a compreensão do conhecimento histórico.

 

Para levar o conhecimento histórico para dentro da sala de aula, o professor conta com o auxílio de diversas fontes e tipos de documentos que potencializam a compreensão do conteúdo. Assim, subentende-se que “nessa dimensão, o objeto histórico transforma-se em exercício, em laboratório da memória voltado para a produção de um saber próprio da história” (BRASIL, 2018, p, 398). Isto ocorre a partir do momento em que o professor compreende a perspectiva histórica dos adventos, ou seja, desde o ponto de início onde “fareja carne humana, sabe que ali está a sua caça” (BLOCH, 2001, p.54). Ou seja, mais na qualidade da perspectiva histórica que no ofício do professor de história, onde há a presença humana, há a interpretação do cerne do espírito; neste caso, tanto aquele que emite o conhecimento histórico, quanto aquele que o absorve. Mas, para que ambos reajam reciprocamente na qualidade empírica, se faz necessária a compreensão do processo histórico tanto por parte do corpo discente, quanto docente. Como este processo é possível?

 

De acordo com Paulo Freire o diálogo é essencial para a absorção do conhecimento porque o processo de aprendizagem é uma via de mão dupla. O autor relata que o diálogo “é o encontro em que se solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar ideias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples troca de ideias a serem consumidas pelos permutantes”. (FREIRE, 2005, p. 91).

 

Deste modo, acreditamos que o diálogo é imprescindível para aproximar os sujeitos, a fim de contribuir na edificação do conhecimento em sala de aula.  Entendemos, nesta perspectiva, que o professor não deve ser apenas um mero transmissor de conteúdo, pelo contrário, o professor tem a missão de ser um mediador do conhecimento. Pois quando o professor atua nesta concepção, é possível articular os conhecimentos ao seu entorno e, proporcionar aos seus alunos, a oportunidade de se sentirem sujeitos ativos no processo de ensino aprendizagem.

 

Para que essa trilha do conhecimento histórico seja seguida, o professor pode amparar-se de diversas metodologias que podem dinamizar o processo de ensino e aprendizagem. Nesta abordagem, em específico, nos beneficiamos da ótica da aprendizagem significativa. Esta abordagem “se caracteriza pela interação entre conhecimentos prévios e conhecimentos novos, e que essa interação é não literal e não arbitrária. Nesse processo, os novos conhecimentos adquirem significado para o sujeito e os conhecimentos prévios adquirem novos significados ou maior estabilidade cognitiva.” (MOREIRA, 2012, p. 2). Ou seja, a abordagem significativa ocorre quando é possível partir do pressuposto que o aluno possui conhecimentos prévios, e, a partir da mediação do professor, é possível relacionar o que o aluno dispõe com uma ideia, conceito ou informação nova.

 

Percebe-se que, neste processo, o estudante tende a despertar a percepção e por sua vez, ampliar e atribuir novos significados aos seus conhecimentos. E, nas aulas de história, subentende-se que este método permite aproximar ainda mais o aluno do conhecimento histórico.

 

Contudo, para que tal prática seja possível, o docente deve contar com o auxílio de materiais a serem utilizados de maneira estratégica, com o intuito de atrair a atenção dos alunos e, por outro lado, o discente também deve demonstrar certa predisposição para aprender, pois compreende-se que não é possível produzir uma aprendizagem dinâmica de maneira unilateral.

 

Para que esta abordagem fosse possível de ser aplicada, tivemos que criar um material significativo, que fosse capaz de dialogar de maneira relevante e apropriada com os alunos. Assim, nos propusemos a utilizar o fórum de discussão como uma ferramenta, geralmente aplicada em aulas no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), adaptadas para o Ensino Médio, tendo em vista a modalidade de ensino híbrido adotado nas escolas, mediante a pandemia da Covid-19 a partir do ano de 2021. Devido a este momento em que vivemos, evidencia-se ainda mais a necessidade de nos apropriarmos das tecnologias da informação, pois estas nos permitem conduzir o processo de ensino e aprendizado parcialmente mediado pela interface digital.

 

A utilização do fórum de discussão (no nosso caso, fórum de diálogo) auxilia a aproximar o docente e os alunos, por meio de diálogos abertos acerca de temas trabalhados durante o período letivo. Além de ensinar os alunos a utilizarem este recurso para realização de atividades, tivemos também que estimular nos alunos a colaboração, a união e encontrar os meios adequados para que cada um deles conseguisse organizar as suas ideias. Compreendendo-se assim que a responsabilidade do professor não é apenas assegurar que a atividade seja realizada, mas sim que as temáticas elucidadas pelos fóruns de diálogo sejam trabalhadas, discutidas e até mesmo criticadas, pois é desta maneira que contribuímos para uma formação de cidadãos autônomos, capazes de desenvolverem seu senso crítico.

 

Tendo isto em vista, as atividades propostas por meio dos Fóruns de Diálogo foram aplicadas para a 1ª, 2ª e 3ª série do Ensino Médio. Cabe ressaltar que este espaço para debate não consiste apenas em fazer com que o aluno comente sobre o que ele aprendeu sobre o conteúdo, pelo contrário, permite com que o aluno possa ser capaz de analisar, refletir e opinar sobre temas, além de comentar a ideia dos demais colegas de classe. Com isto, percebemos que a ferramenta pode vir a contribuir para despertar o senso de análise e criticidade dos alunos.

 

Para que esta ferramenta se tornasse qualificada para atender às nossas demandas educacionais no ensino de história, optamos por realizar a atividade de diálogo após a finalização de cada temática abordada em aula, pois facilitaria os alunos a articularem melhor as suas ideias. Além disso, para que os alunos pudessem notar que a história não é algo linear e totalmente ‘presa ao passado’, acabamos inserindo no escopo da nossa atividade sempre uma matéria, reportagem ou artigo de opinião recente que comentasse (ao todo ou em partes) sobre a temática estudada. Assim, mais do que o conteúdo presente nos materiais didáticos e por meio da explicação promovida pelo professor, os alunos puderam contar também com o foco jornalístico, a fim de aprofundar os seus conhecimentos e notar que a história está numa constante construção.

 

Após a leitura do material jornalístico indicado, os alunos deveriam criticar (negativamente ou positivamente) o texto, além disso, deveriam relatar como o texto dialoga com o conteúdo abordado em sala de aula, ou seja, se possui um olhar igual ou diferente do que foi exposto no decorrer das aulas. Outra questão muito importante a ser comentada é que os alunos também poderiam inserir informações adicionais, como leituras previamente realizadas, conhecimento que possui ou até algo interessante que se relacionasse com a temática elucidada. Compreendemos assim que esses diversos olhares sobre e além do documento permitem uma complementação do aprendizado, além de incentivar o compartilhamento de ideias e aguçar a curiosidade.

 

Posteriormente à prática realizada, coube ao professor realizar a leitura do comentário dos alunos. Além disso, nos comprometemos a dar um feedback para cada aluno, tanto para aqueles que realizaram a atividade, quanto para aqueles que não realizaram. Acreditamos que este olhar direcionado do professor a todos os sujeitos envolvidos na prática educativa deve proporcionar ao aluno uma percepção reflexiva, não somente para o estudo da história, como também para o modo de aprender de cada aluno.

 

Dito isto, percebemos que esta prática permitiu interagir pessoas e conhecimentos. “As trocas entre colegas, os múltiplos posicionamentos diante das informações disponíveis, os debates e as análises críticas auxiliam a sua compreensão e elaboração cognitiva. As múltiplas interações e trocas comunicativas entre parceiros do ato de aprender possibilitam que estes conhecimentos sejam permanentemente reconstruídos e reelaborados (KENSKI, 2002, p. 258). Com isso, partimos do pressuposto que aprender a história se torna uma tarefa mais fácil de dinâmica a partir do momento em que ambos os sujeitos (professor e aluno) se comprometem mutuamente no processo de formação do conhecimento.

 

Ao aplicar esta atividade percebemos que o espaço oferecido proporcionou um debate saudável e construtivo e que a maior parte dos alunos participaram desta proposta interativa de debate e diálogo. Além do aprendizado do próprio conteúdo, foi possível perceber que esta ferramenta demonstrou ser essencial para: oportunizar o estímulo à discussão, contribuir para o incentivo à leitura e à pesquisa, dialogar por meio do compartilhamento de opiniões e auxiliar no estreitamento das relações entre professor e aluno e dos alunos entre si.

 

Acreditamos que esta ferramenta também nos aponta caminhos importantes a serem trilhados que nos oportunizem pensar na avaliação do processo de ensino aprendizagem. Além disso, esta atividade de cunho mais prático permitiu notar maior engajamento por parte dos alunos, principalmente ao evidenciar que muitos estudantes, que geralmente não argumentam verbalmente em sala de aula presencial e/ou por vídeo chamada (por timidez, ou outros motivos) puderam utilizar o fórum como alternativa para expor a sua opinião e conhecimento.

 

Contudo, não podemos nos enganar e acreditar que tal prática só nos apontou elementos positivos; pelo contrário, a aplicação dos fóruns de diálogo também nos permitiu visualizar algumas fragilidades, principalmente na dificuldade que muitos alunos possuem em conseguir expressar suas ideias de maneira escrita; outra questão evidenciada foram os comentários que fugiam do assunto ou abordaram a temática de maneira superficial. Com isto, a partir desta primeira sondagem em torno da atividade, foi possível identificar as dificuldades encontradas no decorrer da prática de diálogo por meio dos fóruns. Por meio dessas observações, será possível criar estratégias que possam favorecer e fortalecer os alunos que não conseguiram realizar a prática de maneira assertiva.

 

Nos propusemos com este texto demonstrar como a estratégia dos fóruns de diálogo podem ser uma estratégia de uso do docente durante as aulas de ensino híbrido. Através da nossa prática, nota-se que até o momento, a utilização desses espaços de debate e diálogo se demonstraram majoritariamente positivas, permitindo com que professor e alunos construam um ambiente digital permeado pela aprendizagem e pelo conhecimento.

 

Entretanto, para que atividades como esta possam ser realizadas é preciso quebrar alguns paradigmas, quanto às formas de aplicação ensino híbrido. Em primeiro lugar, acreditamos que enquanto docentes devemos estar aptos a aprender a lidar com diversas tecnologias da informação, e para que isso ocorra é necessário um investimento em cursos de capacitação para o professor, a fim de fazer com que novas ferramentas tecnológicas sejam utilizadas. Em segundo lugar, precisamos ter em vista que a escola também precisa se adequar, conferindo estrutura necessária para que o ensino híbrido possa ser realizado de maneira mais eficaz.

 

Não podemos também deixar de comentar que tal prática também é um desafio para o professor de história, principalmente para aquele que tenta utilizar a criatividade para não seguir um roteiro de análise linear do conteúdo em suas aulas. Acreditamos que a história, por meio desta abordagem, desempenha um papel significante, na medida em que contempla a pesquisa e a reflexão dos alunos, favorecendo a sua autonomia para aprender.

 

Este texto também tem o intuito de contribuir com outros professores, proporcionando troca de ideias e de ferramentas que possam ser utilizadas em aulas. Acreditamos que um dos objetivos deste texto é oferecer oportunidades para debater a importância do cuidado e atenção sobre as práticas educativas no ensino de história. Embora, neste texto tenhamos apontado apenas uma prática de uso da ferramenta de fórum de diálogo, acreditamos que outras práticas utilizando a mesma ferramenta poderão surgir adiante. Espera-se que, com esta discussão, seja possível auxiliar outros docentes a utilizarem esta ferramenta, pois a possibilidade de uso na sala de aula vai depender muito da proposta definida pelo professor.

 

Em suma, nos propusemos através desta narrativa colocar em evidência a importância do respeito e do diálogo entre professor e aluno. O desenvolvimento de práticas educativas como esta, no ensino de história, tende a auxiliar na formação de sujeitos críticos.

 

Referências biográficas

Priscielli do Carmo Rozo Cerdeira da Rosa, professora de Ensino Médio, acadêmica do Mestrado Profissional em Ensino de História – ProfHistória - UEPG. E-mail: prisciellirozo@gmail.com

 

Ronualdo da Silva Gualiume, acadêmico do curso de Pedagogia na Unicesumar. E-mail: ronualdo_gualiume@hotmail.com

 

Referências bibliográficas

BLOCH, Marc. Apologia da História ou O Ofício de Historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

 

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versa ofinal_site.pdf>. Acesso em 01/03/2021.

 

FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. 19 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.

 

KENSKI, V. M. Processos de interação e comunicação mediados pelas tecnologias. In: ROSA, D., SOUZA, V. (orgs.). Didática e práticas de ensino: interfaces com diferentes saberes e lugares formativos. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

 

MOREIRA, M. A. O que é afinal aprendizagem significativa? Revista cultural La Laguna Espanha, 2012. Disponível em: <http://moreira.if.ufrgs.br/oqueeafinal. pdf>. Acesso em: 22/04/2021.

4 comentários:

  1. muito relevante seu tema, principalmente na atual conjuntura quando mesmo o ensino universitário emprega fóruns de discussão.
    como o professor pode lidar com os alunos que simplesmente copiam as informações das postagens anteriores?

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Boa noite, Kalina. Muito obrigada por ler nosso texto!
      Em uma das turmas em que o fórum de diálogo foi aplicada aconteceu a situação de um aluno acabar copiando o texto de uma outra colega (postado anteriormente).
      Quando notamos a situação, nos propusermos a entrar em contato com o aluno que copiou, por meio do chat privado, para não expô-lo aos demais colegas de turma. Argumentamos sobre a importância da reflexão e da análise autoral para que a atividade fosse validada. Acreditamos que antes que julgar, cabe a nós professores orientar. Foi o que fizemos, nos propusemos a auxiliá-lo caso ele estivesse com alguma dificuldade para a realização da atividade. O aluno prontamente nos respondeu, pediu desculpas sobre o ocorrido e realizou uma nova postagem a partir das suas reflexões e palavras.

      Abraços,
      Priscielli do Carmo Rozo Cerdeira da Rosa e Ronualdo da Silva Gualiume

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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